A viagem de Barack Obama ao Brasil neste fim de semana é bem diferente das últimas 14 visitas de presidentes dos EUA, escreve o analista político Paulo Sotero
Pela primeira vez desde a restauração da democracia no Brasil em 1985, um diálogo bilateral de alto nível vai começar com o líder dos EUA em direção ao sul. Até agora, era o contrário, presidentes brasileiros deveriam ir primeiro para Washington.Três dos últimos cinco presidentes, incluindo Luiz Inácio Lula da Silva, decidiram que era necessário visitar a Casa Branca antes mesmo de tomar posse.
Então, nesse sentido, a visita do presidente Obama ao Brasil - a primeira parada de uma viagem de quatro dias que inclui Chile e El Salvador - é um gesto simbólico significativo. Ocorrendo nos primeiros três meses do governo da presidente Dilma Rousseff, ela reflete claramente o desejo de ambos os governos em renovar um relacionamento importante.
Os laços diplomáticos foram seriamente prejudicadas pela crise em Honduras( 2009) e a tentativa do Brasil em 2010 juntamente com a Turquia em mediar um acordo nuclear entre o Irã e a comunidade internacional.
As relações Brasil-EUA foram, às vezes, tensas durante a gestão do presidente Lula. Então a visita do presidente Obama ao Brasil agora, antes de cumprimentar a presidente Rousseff em Washington, é importante e pode ser vista como o reconhecimento dos EUA da nova relevância que o gigante sul-americano, Brasil, tem no desenvolvimento regional e nos assuntos mundiais desde que se tornou uma nação democrática e economicamente estável.
"O Brasil já não é um país emergente, ele já emergiu", afirma o embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon. Ele acredita que ambas as nações têm agora que aprender como se relacionar um com o outro de forma produtiva e mutuamente vantajosa quando se tratar de questões regionais e globais em que ambos são atores-chave. Estas questões incluiem a econimia mundial, mudanças climáticas, segurança alimentar, redução da pobreza, a saúde e a paz mundial.
Dívida e déficit
O contexto político faz com que a mensagem positiva implícita na viagem de Obama ao Brasil seja ainda mais relevante. As dificuldades que Obama e a presidente Dilma enfretam em implementar as agendas dos respectivos governos "envolvem questões muito semelhante.”
No EUA, como no Brasil, os desafios são para reduzir a dívida e os gastos publicos. Ao mesmo tempo, ambos têm de encontrar maneiras de aumentar a quantidade e a qualidade dos investimentos em infra-estrutura, educação e inovação, e serem mais competitivos no mercado internacional.
Igualdade social em termos de raça e sexo é preocupação em comun dos Presidentes Rousseff e Obama respectivamente. Ela a primeira mulher e ele o primeiro negro a chegar a presidencia de seus países. Assuntos de destaque durante a visita de Obama ao Brasil, especialmente considerando a escolha do Rio de Janeiro como palco principal de sua aparição pública, no domingo.
Os dois presidentes tambem se reunem com lideres empresarias em Brasilia. Com a expasão da economia brasileira, mais empresas americas estão dispostas a investir no Brasil. Os dois presidentes e lideres empresariais devem anunciar nesta mesma ocasião acordos para aumentar a cooperação em energia, infra-estrutura, ciência e tecnologia e assistência ao desenvolvimento internacional , especialmente na África, onde ambos os países têm interesses econômicos e políticos.
Nesta visita não se espera resolver diferenças antigas entre os dois paises, tais como os que persistem há décadas no comércio agrícola e continuam a ser ponto de discórdia na Rodada de Doha e inconclusivos na Organização Mundial do Comércio.
A moeda sub-valorizadas da China que tem um impacto negativo no Brasil e EUA é improvável que seja destaque durante a visita de Obama, por duas razões. Em primeiro lugar, o Brasil também tem queixas contra a "flexibilização qualitativa". A política do “Federal Reserve” dos EUA (Banco Central), aumenta a pressão em moedas super valorizadas como o real.
A China é atualmente o maior comprador das exportações do Brasil e já é o maior parceiro comercial, enquanto os EUA continuam sendo o maior parceiro importador de produtos brasileiros, com US $ 27 bilhões (R$ 17 bilhões), vendidos no ano passado, US $ 2 bilhões a mais que a China.
Em segundo lugar, Dilma Rousseff está com uma visita prevista a Pequim em abril e não tem interesse em comprar briga com as autoridades chinesas, apesar das exigências dos industriais brasileiros em proteger produtos produzidos no Brasil.
Cenário mundial
Nas últimas semanas, autoridades dos EUA disseram que os brasileiros não devem contar com um anúncio de Obama em apoio a uma antiga reivindicação do Brasil por um assento permanente no Conselho de Segurança da Nações Unidas.
Enquanto isso, um alto funcionário do governo brasileiro disse a um diplomata americano que a viagem de Obama seria vista como um fracasso se ele não fizer tal anúncio.
Os esforços do Itamaraty
O Itamaraty – gostaria de fazer um comunicado com uma visão em comum dos dois paises sobre segurança internacional e desenvolvimento e a importância de uma reforma no Conselho de Segurança. No entanto, Brasília reconhece a necessidade de reconstruir a confiança mútua perdida durante o episódio iraniano. O Brasil, ao que parece, ficaria satisfeito com qualquer endosso vindo dos americanos, pelo menos no momento.
O Brasil está assumindo mais importância tanto política como na economia. Em Washington, ao mesmo tempo, as repercusões populares do movimento em pró-democracia na África do Norte e Oriente Médio, trazem um sentimento de que é inevitavel a ascensão do Brasil ao Conselho de Segurança da ONU. Isso tem incentivado os que gostariam de ver o presidente Obama repetir em Brasília o que fez no ano passado em Delhi, anunciando o seu apoio ao Brasil a uma cadeira no conselho de segundaça da ONU.
Aqueles que partilham desta opinião afirmam que o impacto imediato do apoio dos EUA ao Brasil seria uma forma de fortalecer o sentido de aproximação entre as duas maiores democracias e economias das Américas.
A esperada boas vindas a Obama pelos brasileiros deve ecoar positivamente no mundo. Isto não é pouco para um um presidente que tem dificuldades em traduzir sua popularidade pessoal em todo o mundo em resultados tangíveis nas políticas publicas Americana.
Paulo Sotero é diretor do Instituto Brasil do Woodrow Wilson International Center for Scholars, em Washington DC.(Fonte: BBC)
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