“Elas são as pessoas mais expostas aos desastres”, afirmou a diretora do Programa de Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Helen Clark, em entrevista recente à AFP.
No mundo, as mulheres e as crianças estão 14 vezes mais sujeitas a morrer numa catástrofe natural do que os homens. E quando sobrevivem e são deslocadas, 20% acabam sendo vítimas de algum tipo de violência sexual – segundo estimativas da ONU apresentadas na Terceira Conferência Mundial das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres.
Presas em casa – “Existe toda uma série de razões [que explicam esta taxa superior de mortalidade]. Elas podem estar presas em casa, cuidando dos membros da família ou dos filhos”, explicou Clark, ex-primeira ministra da Nova Zelândia.
“Em algumas sociedades, quando ocorre este tipo de desastre, a mulher não pode, por motivos culturais, deixar a casa. Nestas condições, como ela poderia ‘escapar’ e salvar sua vida?”, ressaltou.
“O desafio é fazer que as mulheres participem completamente, promover a igualdade”, afirma a diretora da ONU, durante a conferência dedicada ao tema, celebrada em março em Sendai, no Japão.
“Elas devem se tornar o motor da mudança necessária para nossa sociedade e para o mundo econômico”, insistiu Clark.
A análise é a mesma no terreno das catástrofes e da saúde pública, como o que ocorreu no caso da epidemia de ebola que assolou o oeste da África.
Ali, foram as mulheres que pagaram mais caro, garante Remi Sogunro, representante na Libéria do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA).
Além de sua posição central no seio da família, que faz delas as primeiras vítimas, são muitas as mulheres que trabalham em profissões relacionadas à saúde, como enfermeiras, auxiliares ou médicas.
“As mulheres tentam ajudar o país a frear o vírus do ebola, e morrem no exercício de suas funções”, lamenta Sogunro.
‘Não há mulheres suficientes aqui’ – Mesmo em países desenvolvidos como o Japão devem ser feitos mais esforços para melhor envolver as mulheres na redução de risco, afirmou o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe.
Quatro anos após o terrível terremoto e tsunami que atingiu o Japão em março de 2011, Abe lamentou que a maioria dos participantes nos programas organizados no arquipélago para a prevenção de desastres seja de homens.
“No entanto, se um dia um grande terremoto ocorrer, a maioria das pessoas que estarão em casa serão mulheres”, argumentou o premiê de um país de mentalidade percebida como retrógrada e machista pelo Ocidente.
“É repugnante ver tão poucas mulheres” entre os participantes do fórum de Sendai, avaliou Rachel Kyte, vice-presidente do Banco Mundial para mudanças climáticas, explicando que ela era a única representante feminina na maioria das reuniões.
“É preciso mudar isso, não há número suficiente de mulheres aqui”, afirmou Kyte, convencida de que elas têm a chave para o problema.
“Em quase todas as comunidades em todo o mundo são as mulheres que estão atentas a tudo o que acontece. Eles sabem quem é fraco e vulnerável, quem precisa de ajuda, quais relações as pessoas mantêm.” (Fonte: G1)
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