...Naquele dia, um conhecido ao fugir correndo dos tiros, enfiou um pé num buraco, não fraturando, mas provocando um hematoma imenso.
Procurou meu avô José Correa Faria que o curou, em uma semana, com compressas de mentruz e sal grosso.
Esse dom que meu avô possuía, morreu com ele, não repassou pra ninguém dos herdeiros. Ele sempre utilizava em suas receitas de cura, ervas nativas, sal e cachaça.
Olha a ironia dos fatos. Naquela época a cachaça era utilizada como remédio, hoje ela faz mal, chegando em alguns casos a matar o usuário.
Mas voltemos à véspera do Dia dos Namorados.
Naquela noite, muitos enamorados daquela urbis, tiveram o mesmo pensamento em procurar referido motel para comemorar a data; e aí houve congestionamento de veículos, com uma fila de espera imensa, por horas.
Lá pelas tantas, um pessoal que também estava à espera, resolveu sair dos carros e começar a comemoração, pedindo e sendo servido pelos garçons do motel, bebidas, lanches etc etc.
Apareceu um casal que estava comemorando aniversário de casamento, trazendo um bolo, para ser repartido pelos colegas da fila, ocasião em que os mais exaltados começaram a correr os carros e convidar os demais casais para se aproximar da festa.
Propininha, um Tira muito conhecido naquela região, também estava naquela fila acompanhado de uma moçoila, esperta e cheia de boas intenções...
Consta, que Propininha anteiormente telefonou pra a noiva, que estudava jornalismo em outra cidade, e a mesma o avisou que não poderia vir naquele dia porque estava com prova marcada na facu.
Na verdade ela queria fazer uma surpresa para o nosso herói; e ao chegar à casa do Propininha, sua mãe foi logo derrubando caixão:
- Você disse que não viria, ele pegou uma gata qualquer por aí e saiu, sabe-se lá para onde ...
- Eu sei bem onde ele foi, e vou encontrá-lo.
No caminho a jornalista encontrou alguns colegas moços e moças e os convidou para acompanhá-la no flagra que faria no noivo...
Ocorre, que quando Propininha corria a fila de carros estacionados defronte ao Motel para convidá-los a vir comer o bolo, encontrou sua noiva com um bando de moços e moças e antes de qualquer explicação, num gesto explosivo mundano, irracional, já foi tirando a arma e fazendo um escândalo daqueles, inclusive disparando vários tiros.
Questionada o que fazia ali, a noiva continuou no objetivo a que se propôs, omitindo que estava ali à procura dele e mentindo que estava ali para comemorar a data com seus amigos.
– Se você que é meu noivo pode, eu também posso!
Ela tomou logo uns tapas no rosto, ao que um dos companheiros dela, que era lutador e forte, revidou e simplesmente nocauteou Propininha, que necessitou ser removido de ambulância para o hospital, em estado grave, ou simplesmente foi removido após terem sido juntado os cacos que sobraram dele.
Foram todos parar no DP, para o competente boletim de ocorrência, sobre... sobre..., o certo é que não se podia falar de chifre, de traição etc etc; enfim, em casa de enforcado não se fala de corda.
Fizeram um boletim de ocorrência sobre desinteligência, sem histórico, que foi sumariamente arquivado, mesmo porque a única vítima de lesões corporais, nosso herói, queria esquecer os fatos.
Essas coisas que causam saliência nos entornos da testa, causam caroço, são inesquecíveis para nós latinos.
O noivado acabou naquele dia.
Wagner Sampaio é Advogado
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