Enquanto os torcedores brasileiros lamentaram a derrota humilhante da seleção canarinho para a Alemanha na última terça-feira (10) por 7 a 1, os investidores na Bovespa aproveitaram ontem para encher o carrinho e levar o benchmark da bolsa a uma forte alta na sessão.
Já esperava-se isso desde quarta, dia de feriado no Brasil, quando os ADRs (American Depositary Receipts) brasileiros subiram forte na Nyse (New York Stock Enchange), com destaque principalmente para os da Petrobras (PETR3;PETR4), que tiveram alta de mais de 3%. Ontem, as ações PETR4 subiram 4,5% e os PETR3 ainda mais, 5,20% enquanto o benchmark da bolsa, o Ibovespa, subiu 1,79%.
Esse movimento ocorre uma vez que o mercado acredita que essa goleada histórica pode aumentar o mau humor dos brasileiros, que estava adormecido com a empolgação nacional com o início da Copa. A expectativa é que a popularidade e as intenções de voto em Dilma Rousseff, que subiram no último Datafolha com a Copa sendo bem sucedida e os protestos se arrefecendo, volte a cair. E o Ibope, que sairá depois do evento, deve ser um bom indicador sobre isso.
Porém, há algumas controvérsias sobre o assunto. "Como nossa 'miséria' na Copa afeta o cenário eleitoral? Não está claro. Imaginava-se que alguma confusão pudesse prejudicar Dilma – mas a Copa correu sem tropeços. Também se esperava que um fracasso da seleção atingisse o humor do eleitor: não está claro ainda em que direção. Vejamos o que dirão as pesquisas eleitorais", avalia a Guide Investimentos.
Para o economista-chefe da Austin Ratings, Alex Agostini, o resultado do Brasil na Copa e o ambiente político podem ser relacionados, mas não diretamente e nem são determinantes para o cenário eleitoral.
"Há algum tempo, o mercado vem sinalizando a queda de Dilma nas pesquisas, que levam à alta da Bolsa, e vice-versa. Com a alta do Ibovespa sendo determinada nos últimos meses pelos levantamentos eleitorais, o mercado manda um recado claro para a presidente que está insatisfeito com a condução da economia", aponta.
Segundo Agostini, ninguém faz uma relação direta entre a derrota do Brasil na Copa e a presidente e, por isso, não há nenhuma comprovação empírica sobre se haverá realmente um efeito. Porém, os brasileiros devem voltar a recuperar o mau humor que havia no cenário antes da Copa, o que pode resgatar as reclamações sobre os altos gastos do evento em detrimento a investimentos em saúde e educação. "O mercado, obviamente, aproveita a oportunidade para relacionar os fatos", avalia o economista.
Caso o cenário econômico estivesse bom, a confiança na economia seria maior. Mas, no cenário atual, os fatores "extracampo", como a derrota histórica do Brasil, façam com que a relação entre a queda da seleção e uma queda de Dilma seja mais fácil de ser relacionada, aponta o economista.
Esse ambiente é o mesmo de se como o Brasil "tivesse acordado do sonho mais cedo", aponta Agostini. Assim, a derrota "despertou" o País para a insatisfação mais cedo: a princípio, caso o Brasil tivesse ganhado o hexacampeonato, a euforia nacional despertaria o Brasil mais tarde para os problemas nacionais. "Este é um fator relacionado, mas não determinante", aponta o economista.
O grande determinante, aponta Agostini, ainda será a economia. Enquanto a produção industrial derrapa e o PIB (Produto Interno Bruto) aponta para desaceleração, os brasileiros estão entre um cenário econômico bastante deteriorado, mas que ainda não afetaram diretamente as suas vidas - ou de uma maioria da população. O emprego e o aumento de renda continuam se sustentando, mesmo com uma tendência de deterioração, e será esse o grande determinante para a eleição ou não de Dilma Rousseff.
"A maior parte dos brasileiros pode até sentir que o risco está aumentando em meio ao noticiário negativo nos jornais sobre o aumento da dívida pública, os maus gastos e a atividade econômica em desaceleração mas, se não 'pesar' no bolso dos brasileiros, o sinal amarelo não será ligado", aponta. Porém, caso o desemprego comece a aumentar e a renda seja corroída pela inflação, o cenário para Dilma pode se inverter. Por outro lado, o cenário negativo da derrota do Brasil na Copa pode ser diluído entre julho e setembro. "Assim, o próximo catalisador para o mercado e para a pesquisa será o vexame brasileiro, mas o grande determinante para as eleições será o cenário econômico".
Não alterando previsão para reeleição de Dilma
Já em entrevista à Bloomberg, o analista político João Augusto de Castro Neves disse que a derrota brasileira provavelmente causará um breve mergulho nas pesquisas e não afetará a eleição. Neves, que trabalha para a empresa de consultoria política Eurasia Group em Washington, não alterou sua previsão que dá à atual presidente uma chance de 70% de vencer a eleição em outubro.
"Isso tem um impacto de curto prazo que não é relevante para a eleição", disse Neves, por telefone, de Washington. E reforça a visão de Agostini: "a maior preocupação de Dilma é a economia".
Já para Tony Volpon, diretor de pesquisa de mercados emergentes da Nomura, "esse tipo de derrota - tão inesperada e tão dura em sua natureza - pode ter ultrapassado o limite do que é normal e pode acabar tendo um impacto mais duradouro".
Vale ressaltar que, de acordo com diversas agências de notícias, como FolhaPress e Agência Estado, a humilhante derrota do Brasil fará Dilma mudar a sua estratégia. Agora, ela tentará colar a sua imagem apenas à organização do evento, considerada um sucesso pelo governo.
Até agora, a presidente vinha se aproveitando da onda de otimismo espalhada no País pela Copa. Mas agora, segundo a Folha, o Planalto admite que a derrota pode afetar a campanha de Dilma. Assim, por enquanto, a estratégia adotada é de cautela. Mas o grande determinante será o jogo fora de campo, principalmente o jogo econômico. (Fonte: Lara Rizério/InfoMoney)
Leia também:
Confira os salários do jogadores da seleção brasileira, (Assista Vídeo)
Governo mantém atuais alíquotas reduzidas de IPI de veículos até fim do ano
Veja Mais noticias sobre Brasil