Uns dizem que ela é mão com açúcar, outros, que ela é mãe duas vezes. “Vó é brincar, é fazer bagunça, é brincar de esconde-esconde, é escorregar ali junto com a neta”, diz Vera Lúcia Fortes, 62 anos.
E eles, será que gostam? “Se ela não existisse, eu morreria”, brinca João Vitor Garcia, de 13 anos.
Qual a fórmula para conquistar as crianças desse jeito? “Ter paciência. Eu ouço mais. Eu mais escuto do que eu falo”, ensina a técnica em enfermagem Lúcia Garcia.
O Fantástico foi conversar com algumas avós para saber como elas percebem a vida delas depois da chegada dos netos. É bom mesmo ser avó? “É maravilhoso. Principalmente para mim, agora que sou viúva. Preencheu os meus dias, as minhas horas, os meus momentos”, conta Therezinha Distácio, 66 anos.
Therezinha está falando de um tratamento bastante conhecido, que passa longe dos consultórios, mas é superindicado pelos médicos.
“A ‘netoterapia’, como às vezes eu recomendo para as minhas pacientes, é um estímulo sensacional. É muito mais prazeroso ter que levar a criança na escola, ver se ela comeu, se ela não comeu, sem ter a necessidade de cobrar dessa criança. Então, ela tem a parte boa de cuidar de uma criança”, explica Ivan Hideyo Okamoto, neurologista da Unifesp.
Mais que uma terapia, ficar com os netos pode fazer bem para a memória e até mesmo adiar os sintomas de doenças como o mal de Alzheimer. Foi o que comprovou uma pesquisa da Universidade de Melbourne, na Austrália.
Foram dez anos de estudo. Os pesquisadores acompanharam 131 avós, entre 57 e 68 anos. Elas passaram por avaliações de memória, de capacidade de planejamento e de velocidade de raciocínio. Os testes não foram escolhidos à toa.
“Nós escolhemos fazer estes testes porque, na doença de Alzheimer, a primeira coisa que percebemos que se vai é a memória. Pesquisas também mostram que em pessoas saudáveis, a primeiro sintoma da doença pode ser a dificuldade de planejamento”, desta Cassandra Szoeke, diretora da pesquisa.
A pesquisa mostrou que as avós que cuidavam dos netos um dia por semana tiveram melhor desempenho em todas as provas. No teste de memória, elas se lembraram de 69% das palavras, 6% a mais do que as que nunca ficam com os netos.
Há cinco anos, as quartas-feiras da Tânia estão sempre comprometidas. É o dia que ela tira para passar com a netinha, Ornella, de 8 anos. “É uma delícia, porque é uma distração e tanto. A gente estuda para as provas. Eu nem lembrava mais que existia certas coisas. O que eu dou para ela é o que eu recebo dela, igualzinho”, diz Tânia Abenante, 60 anos.
Mas cuidar muito tempo dos netos também pode prejudicar as funções do cérebro. No estudo australiano, as avós que ficavam com os netos cinco ou mais dias na semana se lembraram apenas de 55% das palavras, no teste de memória. Pior: a velocidade de raciocínio delas, em média, é 21% mais lento que de todas as outras avós.
“Aí tem uma outra variável que é o fator estresse, o fator responsabilidade. A avó que cuida do seu neto cinco vezes por semana, provavelmente, está sobrecarregada e aí, consequentemente, seu desempenho nos testes cognitivos vão cair”, explica Okamoto.
“Os cinco dias eu acho que é complicado. Aí eu ia me sentir cansada, acho que até estressada”, diz Tânia.
Nós passamos um dia na casa da Dona Dalva, de 78 anos. Ela cuida dos três netos, Rafaela, Juan e Angelo, durante toda a semana, enquanto os pais deles estão no trabalho.
No dia seguinte, levamos as imagens para a família assistir. “Cada um quer uma coisa, entendeu? E ela faz. Está errado, mas ela faz”, conta Raquel, a filha de Dona Dalva.
Mas não adianta: quando o assunto são os netos, Dona Dalva é irredutível: “O que eu faço aqui eu faço com muito prazer. Estou no fim da vida, 78 anos, então deixa eu fazer para os meus netos”, diz Dalva Vieira Barin, 78 anos.
“Cada avó tem que achar o seu ponto de equilíbrio. A ‘netoterapia’ tem seus limites também. Ela é boa na medida certa. Em demasia acaba sendo prejudicada”, avalia Okamoto. As adeptas não abrem mão dos benefícios. (Fonte: G1)
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