- Se você fosse um bicho, seria um pavão!
Essa foi a última palavra que Margô lhe dirigiu, antes de sair de casa, abandonando-o.
Por que? Por que ela o abandonou e o comparou ao pavão?
Eram perguntas sem respostas.
“Jan-Jan” desesperava-se com as dúvidas e a ausência de respostas.
A bem da verdade, Margô era a quinta mulher a abandoná-lo e foi a que mais o aturou: 1 ano e 03 meses, 2 dias e algumas horas, como ela mesmo gostava de afirmar.
As anteriores quando o abandonaram, também fizeram alguma insinuação maldosa.
Magda, a quarta ex esposa, no auge da briga que os separara, o acusou de ser bonito demais, só faltando abrir as asas para exibir-se, e isso era tudo, na relação de ambos. Exibição, e nada mais!
Maira Maria, a ex terceira esposa, quando da separação, afirmou:
- “Você tem os pés sujos!”
Matilde, a ex segunda esposa, também deixou sua marca:
- “Belo Antonio, deformado!”
Matilde sua primeira ex esposa, fugiu com um pintor, deixando um bilhete:
“A brocha do Antonio, (no caso o pintor fujão), é esperta”.
Tudo isso formara uma química na cabeça do nosso herói, que o atormentava muito.
Jan-Jan não sabendo mais o que fazer, resolveu tomar uma atitude.
Procurou o pai de santo “Divino U$10” ou para os íntimos “Trintinha”, narrando sua longa história, enriquecida por definições, sentimentos de frustrações, de derrotas, inquietações e falta de respostas às próprias dúvidas.
O pai de santo ouviu suas lamúrias calmamente, enquanto fumava um cachimbo escuro, sem interrompê-lo, e sem levantar seu olhar.
Quando a narrativa acabou, deu uma longa baforada, colocou o cachimbo numa cachimbeira, levantou e começou a falar pausadamente.
- Acho que o senhor está com uma galhada exposta na testa, um problema do tipo insolúvel!
- Oooooquuuueeee?
- Analisando os fatos que o senhor mesmo descreveu muito bem, suas ex esposas quando o abandonam, sempre fizeram referência a um bicho: O pavão! Ora falando de sua beleza, na abertura das asas e até dos pés da ave.
Na verdade elas se equivocaram, provavelmente queriam falar outra coisa. O senhor é brocha de carteirinha, daqueles com tempo de aposentadoria brochisse, ou seja lá o que for, quiçá, impotente contumaz, histórico, com DNA comprovado e isso contraria a natureza das mulheres.
- Olha aqui o senhor me respeita.
- Vai se catar, vai viagrar na sombra.
Jan-Jan saiu da casa do pai de santo com mais grilos do que entrara, e irritadíssimo por ter gasto trintinha e ter sido ofendido!
Sentia-se abandonado pelo mundo.
Não iria chegar aos finalmente, suicidar-se, isso jamais! Daria a volta por cima, era refrescar a cabeça e partir pra outra.
Procuraria um médico para curar sua brochisse crônica. Enfim estava tudo resolvido!
Procurava desesperadamente uma resposta. Porque isso tudo estava lhe acontecendo? Será que tinha atirado pedra na cruz, chutado a santa, queimado um Pataxó, queimado mendigo, votado no Lula–lá?
O que tinha a ver a ave, o pavão com isso? Porém, sempre a ave lhe voltava ao pensamento. Por que?
Decidiu ir ao zoológico ver de perto um pavão.
Olhou, olhou um pavão maravilhoso e não chegou a uma conclusão.
Auto analisando-se acabou descobrindo que quando da visita ao zôo, fixava os olhos nos pés deformados da ave, embora a ave insistisse em mostrar sua plumagem colorida.
- O problema eram os pés! Deformados! Pés sujos, lembrou-se da acusação da terceira ex, Maira Maria!
- Qual a relação entre uma coisa e outra?
Dentro desse tormento Jan-Jan passou a arquitetar uma vingança contra as ex.
Se o problema eram o pés, já tinha a solução!
Começou a adquirir compulsivamente sapatos novos, modernos, caros, de couro alemão, de couro de jacaré, de verniz, de duas cores, sapatênis, etc etc.
Deveria encontrar um local para desfilar com esses sapatos lindos, modernos e não vissem seus pés. Mostraria os pés de outra forma. Na verdade, se houvesse o problema com seus pés, estaria escondido. Essa seria a forma de vingar-se dos que o acusavam de ter os pés sujos.
Resolvido? – Não, o problema estaria encoberto! Mas era a solução possível.
Pensou, pensou e descobriu aonde executaria sua vingança:
No velório! Exatamente no velório.
- Porque no velório? Perguntou-lhe seu anjo da guarda.
- É o local onde as pessoas ficam de cabeças abaixadas, olhando pro chão, pros pés!
Wagner Sampaio é Advogado
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