Numa daquelas madrugadas de frio intenso, policiais conseguiram localizar numa pensão da região, alguns assaltantes de banco.
Aproximaram-se pela frente da referida pensão, que é uma casa térrea, com longo corredor, com quartos laterais de ambos lados, com um banheiro comum e salão refeitório / cozinha nos fundos.
A casa possuía uma saída pelos fundos, que era desconhecida dos policiais e por onde fugiram a maioria dos assaltantes.
Comandando a diligência encontrava-se o policial Exupério Shoda, que trabalhava contrariado pelo abandono a que estava relegado na categoria.
Chegando à referida pensão, os policiais foram recebidos a tiros pelos bandidos e também revidaram; ocorrendo intenso tiroteio no corredor da pensão.
Em algum momento os policiais recuaram para se organizar, propiciando tempo suficiente para que os bandidos fugissem do local.
Um dos bandidos morreu e seu cadáver ali ficou a espera dos exames.
Após os policiais adentraram a pensão e procederam a uma varredura minuciosa no local a procura de algum bandido escondido.
Nada encontraram, exceto alguém no banheiro, sito no meio do corredor, que estava com a porta fechada.
Desconfiado de que algum bandido ainda ali se encontrava escondido, os policiais agiram com cautela e arrobaram a porta.
Encontraram um senhor sentado no bidê, extático, com os olhos arregrados, como se tivesse visto “mula sem cabeça”... E após a entrada dos policiais ao banheiro ele continua inerte, até que a dona da pensão explicou que se tratava do Sr. Valdô, um morador antigo.
O cidadão não conseguia levantar-se do bidê, parecia que estava parafusado. O agente Nelore puxou-o lentamente e com essa ajuda ele começou a mover-se, levantando-se e se recompondo.
Os policias entendiam, até então, que ele ficara estático por medo, devido ao intenso tiroteio ocorrido no corredor, à sua frente.
Waldô levantou-se lentamente, se enxugou com uma tolha felpuda que alguém lhe forneceu, vestiu as roupas, cueca, cuecão, meião, pijama e ainda com os olhos arregalados foi conduzido a cozinha próximo do fogo do fogão de lenha, sito nos fundos do corredor.
Ainda fora de si começou a ser interrogado pelos policiais, após ingerir um gole de café quente com pinga.
Exupério Shoda perguntou: - O que aconteceu com o amigo que esta se borrando todo, de medo?
- Sabe doutor, eu gosto de uma higiene intima, tenho esse hábito e hoje antes de ir ao banheiro perguntei pra Mariana, tem água quente no bidê, já que a temperatura está muito fria?
Mariana respondeu – O chuveiro está pelando, a água do bidê também deve estar.
- Em vista disto, após obrar calmamente e sem preocupação usei o bidê, ligando o registro no máximo, como faço todo dia; ocorre que o jato de agua parecia uma flecha de gelo, e quando bateu nele, sabe “n-e-l-e”, eu senti um golpe imenso, com reações que fugiram ao meu controle, fiquei estático, petrificado, um choque de voltagem incrível, sem que pudesse reagir.
- Eu me recordo que quando a água me atingiu, houve como que uma reação sobre - natural, senti que “e-l-e”, deu uma cortada firme e se travou todo, ali não passava nem pensamento, senti o “beiço” crescer na hora, foi nesse momento que eu desmaiei, ou acho que desmaiei, e a minha alma pulou fora do meu corpo, sem que eu pudesse me defender; eu fiquei preso nessa corrente provocada pelo jato d´agua gelado, queimando tudinho e sem conseguir fechar o registro...
(Exupério Shoda) – O senhor está falando sério ou está me gozando?
- Estou falando o que aconteceu, eu queimei tudinho o “beiço”, o senhor quer ver?
- O senhor ouviu o tiroteio?
- Que tiroteio?
- Não acredito é o fim da picada. Estou há dois dias fora de casa, comendo sanduiche, dormindo mal, convivendo com macho por todos os lados, o tempo todo; gente fedida, sem tomar banho, finalmente encontramos os “malacos”, há o tiroteio, um morre, a maioria foge, essa madrugada de frio intenso, frio de fazer pinguim procurar um conhaque para se aquecer, e o senhor com hiper-sensibilidade no rabo. Preciso me aposentar, não aguento mais, vou embora para Maracangalha!
Wagner Sampaio é Advogado
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