O DIABO É JUNDIAIENSE
Plantão é sempre igual: longo, chato, mas às vezes acontecem fatos surpreendentes. Numa dessas ocasiões, a Guarda Municipal encontrou uma ossada, que posteriormente foi definida como carcassa de burro, com sinais de que poderia ser “magia negra”.
Naquela noite se conversou muito sobre esse fato e sobre fatos semelhantes ocorridos no passado.
Consta, que certa ocasião o “Diabo” começou a aparecer numa tecelagem daquela cidade, e ocasionou dezenas de demissões de funcionários.
A polícia civil teria sido acionada porque com o aparecimento do “Satã”, outros fatos passaram a ser atribuídos ao mesmo, como alguns danos praticados contra a firma, furtos e até uma violência sexual contra uma sexagenária, fora registrado como tal.
A fantasia popular, o medo, o desconhecido, a desconfiança passou a dominar os funcionários da empresa e alguns atos de sabotagem também passaram a ser mais frequentes.
Diante do inusitado, o proprietário pediu providencias urgentes à autoridade policial.
Nenhum dos tiras com experiência queria trabalhar nesse caso, até que o chefe deles se definiu escalando os tiras Canabis Sativa L e Fininho para a empreitada.
Foi feito um pré levantamento do caso, e constatou que o “Gramunhão”, aparecia à noite na fábrica; sempre o fazia correndo pelos corredores do primeiro andar, onde também situava-se o depósito e almoxarifado.
Tal fato não ocorria todo dia.
“O capeta” sempre trajava colã vermelho, tinha dois chifres, um dos quais meio mucho e um rabão, e sempre portava em uma das mãos um cajado.
Um funcionário afirmou tê-lo visto chegando à noite na firma, num fusquinha verde; informação essa que poderia ser descartada, considerando ser o mesmo uma figura sobrenatural. Mas a informação ficou registrada.
Não se sabia ao certo o que existia de realidade e de lenda nas informações dos tiras, vez que, os mesmos se preparavam para a noitada de trabalho fumando uma xarola de maconha. (Xarola é um cigarro de maconha enrolado em jornal onde vai bem uns 300 gr da erva). Em resumo, eles iam pro local literalmente chapados.
Mas quem conhecia os fatos afirmava que só dessa forma poderiam enfrentar o “Capeta”.
Ficaram vários dias de campana no primeiro andar da empresa à espera do aparecimento, até que certa madrugada, o “Tinhoso” apareceu correndo entre as pilhas de caixote do depósito e sumiu na penumbra da escuridão.
Os tiras ficaram estáticos sem reação, provavelmente por medo; Fininho precisou tomar alguns goles de cachaça para voltar ao normal, tal a tremedeira que tomou conta do seus membros.
Foi feita uma reunião entre a chefia dos policiais e os tiras que estavam de serviço e ficou acertado que deveriam encanar o “Capeta” vivo.
Como se isso fosse possível!
Os tiras novamente voltaram às noitadas, à espera do mesmo, só que, separados, cada qual num canto do corredor, atrás dos caixotes escondidos. Combinaram, que o primeiro que o visse avisasse ao outro, através de um sinal, um flash de luz da lanterna que ambos carregavam.
E deu certo. Certa madrugada, chuvosa e com neblina “O Tinhoso” passou correndo por Fininho, que imediatamente avisou Canabis. Este não tendo um instrumento adequado para parar “O Diabo”, que era grande, cerca de l,90 m de altura, e vinha em disparada, pegou uma pá de pedreiro e preparou o golpe; quando este se aproximou desferiu um golpe violento na altura do peito do “Tinhoso”; quase o matou, derrubando-o, e caindo desacordado; foi retirada a sua mascara e descobriu-se tratar de um dos gerentes da firma.
Por baixo da colã vermelho, “O Diabo” vestia uma camisa do Paulista FC.
Canabis ao revistá-lo para ver se não portava arma e estava vivo, afirmou pro colega Fininho:
- O Diabo é Jundiaiense e torçe pro Paulista FC!
Depois de vários dias internado no Hospital São Vicente, ele foi direto para a cadeia.
Segundo confessou, agia dessa forma para tentar salvar a empresa; esperava que os funcionários pedissem demissão, vez que, a situação da firma era pré falimentar, e não tinham como dispensá-los.
Wagner Sampaio é Advogado
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