As mulheres longe de seus familiares sentiam uma nostalgia enorme, um aperto no coração, uma tristeza imensa.
Algumas chegavam a chorar pela falta do aconchego familiar; e com o passar dos dias, o espírito natalino aumentando, tomando conta de todos a angústia ia aumentando e sufocando-as.
Para espantar esse astral, Bocaemão reuniu as colegas Cidinha, Odalisca, Xaninha de Cristal, Xupetinha, D4, Lingüinha, Selmon, Boquete e as bichas Dottore, Tanajura e Silvinho, numa reunião e resolveram fazer uma festa de natal de arromba, com muito chopp, churrasco, baile etc.
Ficou acertado que cada um tomaria conta de um setor do mega evento. Boquete e Silvinho cuidariam das entradas, onde pratos como torresminho, surpresinha de mortadela, tremoço, estavam certos.
Dottore e Tanajura cuidariam do chopp, gelo, rabo de galo etc.
Bocaemão, Xaninha e Fiofó cuidariam dos convites. Cada organizadora tinha o direito de convidar dois paqueras e duas colegas de outra zona, ou seja: duas putanas.
Bocaemão convidou o tira CPI, seu paquera, pelo qual puxava um caminhão de lerda.
CPI naquele momento estava vivendo uma crise existencial, um drama conjugal, do tipo que mexe com a cabeça, tanto a humilhação que estava sofrendo; pensava que não era gente e sim um poste.
A mulher o abandonara; as crianças o abandonaram, até o cachorro já não lhe sacudia o
rabo alegremente, como antigamente, igualzinho a musica de Roberto Carlos!
CPI estava brigando com a mulher porque certo dia, estando bêbado, chegou mais cedo em casa, e a encontrou com um anão albino na cama. Devido ao inusitado da visão e atrapalhado pelo porre, não sabendo se a visão era realidade ou ilusão, ficaram alguns instantes estático, e quando resolveu ir buscar uma vassoura para espantar “aquilo”, dirigiu-se até a cozinha e ao retornar o anão albino já tinha fugido pela janela.
Questionada a respeito, a mulher falou que ele tivera uma visão de um “gnomo, um anjo”; que ali não havia anão albino algum, nunca houve, era coisa da sua cabeça, da imaginação etílica, enfim da bebida...
CPI estava perturbado e não parava de pensar na visão: Anão albino ou Gnomo? Gnomo de camisinha? Era demais!
Essas desconfianças martelavam sua cabeça, que acabou enchendo tanto o saco da mulher que ela e os filhos o abandonaram.
Ao receber o convite para ir à festa que se realizaria na noite do dia 23 de dezembro, véspera da véspera do Natal, CPI achou que era a oportunidade para ir à desforra; por pra fora toda sua amargura, chutar o pau da barraca, liberar o machão que era a quem a mulher nunca dera o devido valor.
A mãe o incentivou a ir, da mesma forma que queria porque queria que ele comprasse alguns presentinhos para os seus filhos e os entregasse vestido como Papai Noel, como nos anos anteriores.
CPI estava reticente; naquele ano só sobraria dinheiro para as putas, além do que, o pensamento de “corno gnomo” e ainda vestido de Papai Noel! Isso nem mooooorrrrrrtttttttoooooooo !
A mãe já estava desanimada. Achava que se CPI comprasse algum presente, seria um milagre de Natal; indagado, ele repetia: - Esse ano, dinheiro só pra putas.
No dia da festa CPI se preparou como uma noiva para o acontecimento.
O baile já comia solto na festa, comandado por Ricardinho do Acordeom; Bocaemão e Selmona Fiofó não descuidavam do convidado, que parecia não se importar com nada e com ninguém, só queria beber. Beberam todas e mais algumas. . .
Durante a festa, Bocaemão pediu ao Dottore para fazer sala para CPI junto com Fiofó, por alguns instantes, enquanto dava umas coordenadas na festa.
Dottore ouvia atentamente as lamurias do CPI, que dizia estar desorientado, sem saber o que fazer da vida.
Dottore: - Uma das vantagens da maturidade é poder optar, liberar, fazer o que quiser da vida...
CPI o interrompeu: - Olha aqui mermão, eu sou espada, não sou padeiro, não vou queimar a rosca nunca. Isso nnnnãaaooo,
Diante da deselegância do CPI, Dottore se afastou indignado.
CPI trêbado dirigiu-se ao banheiro. Naquele momento caía uma daquelas chuvas rápidas e intensas, típica de dezembro, e uma descarga elétrica provocou um apagão na zona.
CPI entrou no banheiro tateando, foi até o fundo e fechou a porta onde ficava o “celite boca larga”. Mas errou de acento e se acomodou no bidê onde passou um longo fax. Descarregado o caminhão de lixo na escuridão, trêbado, sem saber onde estava o papel, levantou-se com dificuldades e foi procurar o bidê para se lavar, sem saber que estava sentado nele; após virar-se pra um lado, para outro, ir pra frente, pra trás, tateando com a mão encontrou os registros do bidê; pra confirmar se de fato era o próprio girou um dos registros; como estava sem coordenação motora, o fez com força, abrindo todo o jato d”agua. Neste momento a luz voltou; a água do bidê provocou uma chuva de lerda no ambiente, sujando totalmente nosso herói, com seu próprio fax barroso.
CPI foi atingido no corpo todo, na cabeça, no rosto, no bigode etc etc. Se ele tivesse caído dentro da fossa, o estrago seria menor!
Foi salvo por Bocaemão que o procurava pela casa, e ao vê-lo nesse estado trêbado, totalmente sujo e sem condições de reação, providencio um banho e uma troca de roupa.
Depois do banho, a dúvida: como arrumar uma roupa pro mesmo, já que a sua, nem o lixo aceitava.
Na zona não havia roupa de homem, exceto uma fantasia de Papai Noel com saco e tudo, que alguém esqueceu por lá.
CPI já melhor da bebedeira, concordou em vestir-se de Papai Noel para ir embora já que era dia claro.
Bocaemão acompanhou-o até próximo da casa de sua mãe e antes pararam num buteco pra tomar um cafezinho.
Bocaemão percebia que o companheiro estava vexado com aquela roupa, e não sabia como seria recebido pela mãe. Pretendendo diminuir o impacto de sua chegada, comprou pro companheiro um frangão assado, daqueles de televisão de cachorro, pra levar pra casa.
CPI, vestido de Papai Noel e segurando o frangão assado, chegou a casa. Sua mãe ao vê-lo vestido dessa forma e ainda com um presente pra ela, não se conteve em lágrimas e exclamou:
- Milagre do Natal!
- Mami, não exagera.
Wagner Sampaio é Advogado
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