Aliás, é tanto meu desinteresse, que após a pergunta, continuo lanchando.
Mas, do outro lado, sem que eu suspeitasse, existe uma pessoa carente, um verdadeiro “mala”, ávido para me encher o saco.
É a deixa que ele precisa para explicar como vai:
- Eu vou indo mais ou menos... Tive um pequeno probleminha no ânus.
Faz uma pausa na conversa, seguida de respiração acelerada, dando a deixa para que eu pergunte algo.
Na verdade, essa encenação é uma armadilhinha, uma alavanca para que ele continue e até dê ênfase àquele assunto chato.
E... caí na armadilha!
– O queeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee?
- É (pausa, respiração truncada, muda a entonação de voz)... Tive um pequeno probleminha no ânus e fui para exame. Sabe, fui desprevenido, tipo pensando que se tratava de uma hemorróida qualquer.
Nova pausa, nova armadilha.
Nada perguntei, mas mesmo assim ele continuou:
- Lá no hospital, para a realização do exame, fui atendido por um enfermeiro grandão e mal educado, que foi ordenando que eu tirasse toda a roupa e colocasse um avental fechado na frente e aberto atrás.
“O mala” faz nova parada técnica, nova armadilhinha para ver se eu perguntaria alguma coisa. Como queria me livrar do cara, vez que já acabara de comer o lanche e queria ir embora, nada perguntei.
Mas ele continuou:
- O fortão me mandou deitar de bruços numa cama. Após me deitar, ele acionou uma manivela e a cama, que é dobrável, começou a descer da metade para cima, ou seja, da barriga até a cabeça você fica abaixado, com a bunda escancarada, literalmente sem defesa.
Embora a conversa começasse a me interessar, continuo quieto e nada pergunto.
Ele continua:
- O fortão vem com uma mangueira imensa e enfiou no meu fiofó um “taio considerável”. Em seguida, abriu uma torneirinha que fica no alto e liberou um líquido que começa a entrar. Você sente que a barriga está enchendo, enchendo... Não aguentava mais, parecia que ia explodir, então pedi para que ele parasse, mas ele pede para aguentar mais um pouquinho, que faltava pouco e a coisa continuava a encher a barriga. Quando o cara parou, eu mal podia me mexer. Estava próximo de explodir! Aí, ele me indicou um banheiro para evacuar, limpar o intestino totalmente para o próximo exame. Você não sabe o que aconteceu...
É outra pegadinha, para eu perguntar, mas eu continuo quieto.
Mesmo ante minha omissão, “o mala” continuou:
- O banheiro estava trancado e ninguém tinha a chave e, ante ao meu desespero, o enfermeiro mostrou que existia outro banheiro público no meio do corredor do hospital, cerca de 20 metros do local. O corredor estava completamente lotado de gente.
Não aguentei e perguntei:
- E ai?
- Não teve jeito, saí correndo pelo corredor com aquele avental mostrando a bunda, entrei rapidamente no banheiro, mas não encontrei nenhuma privada disponível. As duas ali existentes estavam ocupadas. Evacuei tudo num mictório... Pessoas que estavam ali estranharam muito meu comportamento. Após, peguei água na torneira da pia com uma garrafinha e limpei todo mictório. Estava arrasado, parecia que tinha tomado uma sova com saco de areia. Voltei pelo corredor cheio de gente, mostrando o traseiro, pus minha roupa e nunca mais voltei àquele hospital.
- E ai, a doença, como ficou?
- Sarei...
Ainda bem que “o mala” não me perguntou como ia minha vida, vez que eu estava prestes a regurgitar.
Wagner Sampaio é Advogado
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