Aos olhos da maioria de mães e de pais, os bebês crescem rápido demais, se transformam em crianças e logo já são adolescentes.
Cabe aos genitores garantir a proteção e a segurança de seus filhos em uma relação de amor, de contenção e de suporte.
Ao longo da infância, sob o olhar de seus pais, a criança vai enfrentando os conflitos próprios de cada idade, aprende a superá-los, se fortalece e se desenvolve. Perde o medo do bicho-papão, o medo da bruxa, o medo da “loira do banheiro”, o medo dos espíritos, tornando-se corajosa e destemida. Não mais receia ser esquecida pelos pais na escola, consegue ir à casa de seus amigos, dormir fora de casa, viajar com outros familiares, além de seus pais e, assim, ganha segurança, confiança em seus recursos e a possibilidade de independência e autonomia.
Com o advento da adolescência, o filho passa a viver novos conflitos. São conflitos relacionados à separação do mundo dos pais. É uma forma de separação simbólica, psicológica. Em geral, esses conflitos surgem entre a percepção do impulso e da necessidade de independência e o desejo regressivo de continuar sob a proteção do pai e da mãe. Deixar de ser o filhinho da mamãe e o filhinho do papai não é fácil.
Esses conflitos tendem a acarretar confrontos inevitáveis com as figuras materna e paterna. Eu uso aqui a terminologia figuras materna e paterna para deixar claro que o embate não se limita apenas às pessoas dos pais, mas muitas vezes a tudo o que eles representam, a figuras de autoridade em geral.
A dificuldade de lidar com tais conflitos com frequência é manifestada mediante explosões, agressões, choros, perdas de controle dos impulsos e dificuldade na regulação das emoções.
O adolescente vive o processo necessário de desidealização dos seus genitores. Na infância, mãe e pai precisam ser figuras valorizadas, admiradas, respeitadas e idealizadas. Na adolescência deve ocorrer o processo de desidealização deles, pois quem é colocado eternamente na posição de ser idealizado, pode apenas ser idolatrado, mas não se constitui como bom modelo de identificação, pois o que é idealizado é inatingível.
Se na infância é esperado que o filho obedeça seus genitores, pois eles sabem o que é melhor para ele, na adolescência deve ser esperada a desobediência. Não significa que necessariamente o filho adolescente já saiba o que é melhor para ele, mas ele precisa fazer escolhas, se permitir experiências por sua conta e risco até para poder, um dia, descobrir o que serve para ele, o que combina com ele, o que lhe faz bem.
É uma época muito delicada para mães, pais e filhos, pois essa busca de autonomia ocorre, em geral, na casa dos pais. Portanto, é uma autonomia relativa, pois os filhos continuam, na maioria dos casos, sendo mantidos pelos pais. Mas a autonomia, que significa crescimento, precisa ser estimulada.
Como, então, lidar com permissões e com limites com os filhos adolescentes?
Como se comunicar com o filho adolescente?
Como continuar sendo respeitados, ainda que desidealizados?
Aprender a fazer mediações, a negociar, faz parte da relação pais-adolescente. O diálogo precisa ser ensinado, aprendido e mantido aberto sempre.
Confiança irrestrita e incondicional deveria fazer parte do vínculo com o filho.
Não induzir o filho a mentir é um aprendizado que pais precisam ter desde sempre. Quando se sabe que o filho fez algo errado, não tem sentido perguntar para ele algo que você, pai ou mãe, já sabe. Isso poderá levá-lo a mentir por impulso, por medo de enfrentar as consequências. Terá posteriormente duas infrações: o que fez de errado e a mentira. Na adolescência, ainda é mais importante usar de afirmações e não de interrogações. Se o filho adolescente, por exemplo, pegou o carro sem permissão, nunca perguntar: “Você pegou o carro?” mas, afirmar: “Não é legal sair com o carro escondido.” E tomar as providências cabíveis.
O adolescente precisa ser ouvido em suas réplicas e tréplicas, mas muitas vezes os pais escutam pouco, querem impor seus pontos de vista ou desconsiderar as ideias do filho. Podam a capacidade de iniciativa de seus filhos ou perdem a chance de poder compartilhar sonhos, devaneios e fantasias desejosas – tão intensas nessa época da vida e que são o fundamento da capacidade criativa.
A adolescência é uma época de altos e baixos em termos de humor. De uma tristeza imensa passa-se para uma alegria contagiante e vice-versa, muito rapidamente. É um aprendizado de regulação das emoções e de discriminação dos afetos. Nas duas situações é importante que o adolescente se sinta compreendido.
Quando há explosões e perdas de controle, não é o momento de fazer enfrentamentos. Ele não deve ser “encostado na parede”, pois pela labilidade própria da idade, fica sujeito a mais descontrole.
Para se comunicar com o filho não é preciso se colocar como um adolescente, falar como ele, vestir-se como tal – isso é constrangedor para o filhos, seus amigos e os adultos ao redor. Existe uma diferença grande entre ser próximo de seu filho e ser “seu amiguinho”.
Certamente a adolescência é a época mais difícil da vida do ser humano. Porém, é, sem dúvida, a época mais rica em termos de desenvolvimento. Como pais e mães podemos ter o privilégio de acompanhar nossos filhos, assistindo-os na resolução dos conflitos próprios da idade.
Nove dicas para ter um diálogo eficaz com seu filho adolescente:
1ª) O diálogo precisa ser ensinado, aprendido e mantido aberto sempre;
2ª) Confiança irrestrita e incondicional deve fazer parte do vínculo com o filho;
3ª) Não induza o filho a mentir: se você sabe que ele fez algo errado, não faz sentido perguntá-lo sobre isso, pois poderá levá-lo a mentir por impulso;
4ª) Use de afirmações ao invés de interrogações: se o filho adolescente, por exemplo, pegou o carro sem permissão, nunca perguntar: “Você pegou o carro?” mas, afirmar: “Não é legal sair com o carro escondido.”;
5ª) O adolescente precisa ser ouvido em suas réplicas e tréplicas;
6ª) A adolescência é uma época de altos e baixos em termos de oscilação do humor, que pode ocorrer rapidamente, por isso é preciso que o adolescente seja compreendido;
7ª) Quando há explosões e perdas de controle, não é o momento de fazer enfrentamentos;
8ª) Para se comunicar com o filho não é preciso se colocar como um adolescente, falar como ele, vestir-se como tal – isso é constrangedor para o filhos;
9ª) Existe uma diferença grande entre ser próximo de seu filho e ser “seu amiguinho”.
Ceres Araujo
é psicóloga especializada em psicoterapia de crianças e adolescentes
(Fonte: Vya Estelar)
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