Recentemente naquele famosíssimo caso, em que a esposa degolou o empresário, cortando-o em várias partes, a polícia e a noticiário da TV, pagaram “mico”; a polícia pela pressa e a imprensa por ter embarcado nessa canoa furada.
Quando eu era policial na grande São Paulo, aprendi e presenciei diversos casos de homicídio, em que o investigador que atendia o caso no local, acompanhava o corpo até o IML, e conversava com o médico legista a respeito da causa-mortis. Essa prática investigativa, normal naquela época, facilitava as conclusões, na medida em que o policial passava a ter certeza de que forma aquela vítima faleceu, o porquê, qual a trajetória do instrumento ou projétil que a matou etc etc.
A respeito, era muito comentado um caso de cadáver encontrado sobre a linha férrea Santos-Jundiai, no trecho de Santo André, em que a causa- mortis aparentemente era atropelamento pelo trem, e ao exame necroscópico encontrou morte por projétil de arma de fogo. Provavelmente aquele cadáver foi morto em outro local e jogado sobre a linha férrea.
Voltando ao caso do magnata degolado, a polícia e a imprensa se apressaram em dar o caso como solucionado, enquanto que o médico legista levantou a hipótese da degola, enquanto a vítima ainda estava viva. A necessidade de produzir noticia em tempo real para a televisão, influiu para que a polícia apressadamente chegasse a conclusão do homicídio, pela versão da acusada, o que é uma temeridade.
É o maior mico contemporâneo.
Fiz todo esse tro-lo-ló para entrar no meu tema hoje.
No início dos anos 80 havia aqui na região um assaltante que atacava casais de namorados em local ermo, e após o roubo estuprava a mulher.
Ele praticou crimes em Louveira, Jundiaí, nesta cidade, em Amparo, Jarinu e Atibaia.
A polícia montou uma estratégia para pegá-lo; consistia em colocar dois manequins de loja, sentados dentro de um carro, como um casal de namorados, em local ermo e ficava à espreita, esperando que ele atacasse.
Aqui em Itatiba embora essa arapuca tenha sido feita várias vezes, não deu certo.
Mas em Atibaia, onde a mesma estratégia foi feita, deu certo, ele mordeu a isca e aproximou-se do veículo e os policiais deram-lhe voz de prisão, ao que ele reagiu e acabou morto.
Aí começa a segunda etapa das investigações: o reconhecimento do cadáver.
Geralmente as mulheres quando vítimas de estupro querem esquecer o fato; algumas não fazem o registro policial justamente para não se falar mais nele; daí, o tal reconhecimento de cadáver pelas vítimas estupradas foi muito difícil.
As mulheres compareciam ao necrotério olhavam rapidamente o cadáver e afirmavam não ser aquele o assaltante que as vitimou.
A coisa estava andando perigosamente, vez que, a polícia matara aquela pessoa e se o mesmo não fosse reconhecido como o estuprador, responsabilidades civis e penais surgiriam e aí como justificar um “mico” desse tamanho.
Mas, o Investigador que acompanhara o cadáver desde sua morte, passando pelo IML e que havia feito o levantamento e intimações das vítimas, chamou para reconhecimento uma vítima idosa, que poderia ter paciência e ser mais cuidadosa no reconhecimento e possivelmente resolver o caso.
O Investigador nesse ínterim tinha examinado detalhadamente o cadáver à procura de alguma característica que pudesse facilitar o reconhecimento, e descobriu que o mesmo era “bem dotado”, ou melhor, “bem dotado era pouco”, na verdade o cara possuía uma “estrovenga de jumento”, no meio das pernas.
A vítima idosa compareceu ao reconhecimento do cadáver do suposto estuprador, que se encontrava no IML de Atibaia. Como as demais vítimas, ela também não se mostrava com intenções de ter paciência e auxiliar a polícia. No reconhecimento inicialmente foi levantado a parte superior do caixão de zinco, e nada; ela afirmara que não era o autor do estupro; olhou o tamanho do corpo e também não reconheceu, e assim iam se sucedendo as negativas.
Em determinado momento o Investigador pede que ela que olhe atentamente para o “tamanho do documento”, e esta após rápido olhar, arregalou os olhos e bingo!!!! Imediatamente foi reconhecido, com rápidas respirações ofegantes daquela vitima.
Solucionado mais um caso policial!
Wagner Sampaio é Advogado
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