Sairia de casa direto para o 17.º andar de um edifício no centro, onde pegaria uma procuração; em seguida, iria ao fórum despachar com o Juiz, após, com um Oficial de Justiça, iria proceder uma busca e apreensão. Provavelmente às duas da tarde tudo estaria terminado, só restando entregar a certidão ao cliente e receber os honorários, com os quais pretendia se alforriar da esposa.
Ajeitou a gravata durante o trajeto, enquanto dirigia. Estacionou o veículo e entrou rapidamente no elevador do prédio comercial.
Havia bem umas dez pessoas no elevador.
Quando o mesmo começou a subir, ouviu alguém falar algo e levantar o braço com uma arma.
- É um seqüestro!
Levou ainda alguns instantes para entender o que estava acontecendo, até que a ficha caiu.
Não entendia como alguém pretendesse seqüestrar um elevador! Estava estático esperando o próximo passo; torcia para que fosse uma brincadeira ou coisa que valha, pois estava com pressa e aquela brincadeira só iria atrasá-lo.
O seqüestrador falava sério; em seguida mandou a condutora do elevador pará-lo, para fazer as exigências.
Falando pelo interfone com a portaria, o seqüestrador fez as exigências e em seguida, sempre exibindo a arma, determinou à condutora do elevador:
“Toca pra Cuba.”
Rubner estava estático. Como alguém quer tocar um elevador pra Cuba, se ele corre nos trilhos do 17º andar ao sub solo e vice versa?
Pensou que era brincadeira de muito mau gosto, pois a coisa estava desandando. O porteiro ao ouvir a asneira do seqüestrador, mandou-o tomar tomate cru.
No elevador estavam todos atordoados e com medo das ameaças do seqüestrador, que exibia a arma bem ameaçadora e portava um semblante de alguém determinado a fazer uma grande cagada.
Rubner conhecia bem essa situação; já havia sido vítima de assalto algumas vezes e sabia que a coisa era séria.
As reações das pessoas confinadas no elevador começavam a fluir.
Um senhor, bem afeiçoado, educado, bonitão e enfrescalhado, pediu a palavra:
- Senhor seqüestrador, o senhor poderia me dar um minuto de seu tempo?
- Fala boiola.
- Gostei, gostei do que o sr. falou.
- Fala logo sua bicha enrustida.
- Eu tenho horário com o meu personal trainer para daqui a 10 minutinhos, o senhor poderia me dispensar desse seqüestro.
- Vai tomar no .., desmarque.
- Como?
- Desmarque com seu personal trainer, seu viado.
- Como?
- Pelo celular, pelo telefone, pelo tambor, pela bunda, grite, role no elevador, desmunheque, mas desmarque. Ninguém sai daqui enquanto eu não chegar em Cuba.
- Sim senhor, uma das faculdades da maioridade é poder optar. Optei.
- Optou merda nenhuma, eu estou mandando e o senhor obedece.
- Já desmarquei.
- Posso falar com o senhor, senhor seqüestrador? Falou uma senhora de meia idade, toda suada, provavelmente retornando da academia.
- Pode.
- Quando eu me esforço muito, como hoje, e sob pressão nesse ambiente fechado eu sofro de flatulência.
- E daí?
- Tô pedindo autorização pra flatular.
O seqüestrador ficou sem entender, esperando que alguém esclarecesse o pedido.
A senhora continuou: – É um mosquitinho.
O seqüestrador autorizou, fazendo um gesto com a cabeça.
Logo em seguida o ambiente ficou infectado de tal forma, que o seqüestrador mandou que fosse ligado o ventilador:
- A senhora errou de bicho, ao invés de um mosquitinho a senhora pariu um elefante e podre. Se repetir isso aqui eu jogo a senhora fora.
- Era só o que eu queria.
- Posso falar agora? pediu uma balsaquiana, com pouca roupa.
- Nesse ambiente fechado, hostil, cheio de macho eu fico excitadíssima e preciso de alguma coisa que acalme meu nervo teso, falou olhando pro rapagão solteiro.
Este de bate-pronto respondeu:
- Não olhe pra mim não, eu sou vegetariano e estou de férias e num ambiente desses até moto-boy brocha!
Foi então que nosso herói Rubner se dirigiu ao seqüestrador.
– Eu sou advogado e caso o senhor tenha algum problema, eu resolvo gratuitamente.
- Olha aqui mermão, eu estou fugindo pra Cuba por causa de um colega seu que quer apreender o único objeto que é meu, que recebi de herança, um piano de cauda.
- Como é seu nome?
Ante a resposta do seqüestrador, nosso herói percebeu ali na sua frente seu adversário, em cuja casa estaria na hora do almoço para apreender o referido bem. Um desespero tomou conta de si, a ponto de urinar-se todo nas calças.
O seqüestrador, percebendo o momento de fraqueza de Rubner e também reconhecendo ali seu desafeto apontou-lhe o revólver e puxou o gatilho ...
- Acorda Jumentino, acorda que tá na hora de você ir trabalhar.
- Nossa mãe, tive um pesadelo tão ruim.
- Falei pro-cê não encher o caco de salgadinhos antes de dormir.
- Puts.
Wagner Sampaio é Advogado
* Frase de Renato Russo (Rio de Janeiro, 27 de março de 1960 – Rio de Janeiro, 11 de outubro de 1996) foi um cantor brasileiro. Sua primeira banda foi o Aborto Elétrico (1978), que durou quatro anos e terminou devido às constantes brigas que havia entre ele e o baterista Fê Lemos.[1] Russo herdou desta banda uma forte influência punk que influenciou toda a sua carreira. Nessa mesma época, aos 18 anos, assumiu para sua mãe que era homossexual e, em 1989, publicamente por meio da música "Meninos e Meninas", e também "Mauricío", do disco As quatro estações de 1989.[2]
Em 1982, integrou a banda Legião Urbana, desenvolvendo um estilo mais próximo ao pop e ao rock do que ao punk. Russo permaneceu na Legião Urbana até sua morte, em 11 de outubro de 1996.
Gravou ainda três discos solo e cantou ao lado de Robert Evangelista,Herbert Vianna,Adriana Calcanhoto, Cássia Eller, Paulo Ricardo, Erasmo Carlos, Leila Pinheiro, Laura Pausini, Biquini Cavadão, 14 Bis e Plebe Rude. E em 2010 foi lançado o disco Duetos.
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