Este é um relato do Dr. Luiz Paulo Cobra M. Filho, Médico-Veterinário, Especialista em Clínica Médica de Animais Selvagens, de visita realizada juntamente com presidente da JAPPA - (Jacaré Ribeirão Vivo Associação Para Preservação Ambiental), Edson Luis Guidi, ao Parque Luiz Latorre, atendendo solicitação do administrador do local. Faça como nossos amigos da JAPPA, envie sua informação e foto para redacao@njnews.com.br. É grátis e muito rápido!
"Numa tarde de sábado (22/10/2011) tranqüila e com temperatura amena, eu estava concluindo as últimas correções de um trabalho de pesquisa, quando recebi um telefonema do meu amigo Edison com o intuito de combinar um horário para irmos ao Parque Luís Latorre, em Itatiba.
Na verdade tratava-se de um assunto que já havíamos conversado anteriormente. O Diretor do Parque em questão, o Sr. Tarcísio Belloni, pediu que a JAPPA (Jacaré Ribeirão Vivo Associação Para Preservação Ambiental) ajudasse na avaliação de uma situação preocupante: a presença das capivaras em um dos lagos do Parque.
Como profissional atuante na área do Meio Ambiente e associado à JAPPA fui prestar serviço voluntário à ONG. Chegamos às 17:30h pontualmente e juntos com o Belloni fomos até o segundo lago, o que tem vegetação abundante, para tentarmos observar a presença das capivaras (Hydrochoerus hydrochaeris).
Não foi necessário muito tempo para que pudéssemos ver alguns representantes da fauna local, a qual provavelmente ainda se encontra em processo de aquisição de equilíbrio ambiental, mas o primeiro que avistamos foi um ratão-do-banhado (Myocastor coypus), o segundo um filhote de ratão-do-banhado, depois mais dois ratões da mesma espécie e o Edison observou um mergulhão. Nada das capivaras.
Andamos mais um pouco e resolvemos caminhar atrás de pistas das capivaras pela mata ciliar do Rio Jacaré, o trecho que passa ao lado do Parque. Logo após o Diretor do Parque ir embora, dirigimo-nos para a margem do rio, e caminhamos um pouco naquela vegetação próxima a ele e rapidamente nos deparamos com o principal “habitante” daquele território: o lixo.
Para não chorar às vezes costuma-se fazer piada com algo triste, não houve jeito, começamos a catar o lixo conforme íamos entrando na pseudomata e o Edison comentou que o lixo é praticamente “autosustentável”. Eu ri na hora, mas foi impressionante a verdade inserida nesse absurdo, não tínhamos nada nas mãos além de binóculos e máquinas fotográficas. Como cataríamos aquelas garrafas, copos, canudos, alumínio de marmitex e tantas outras coisas que alguém jogou nas imediações do nosso rio Jacaré? Sacos e mais sacos plásticos espalhados por todas as direções das margens do rio, justamente os sacos que precisávamos para minimizar aquela horrorosa paisagem e coletar as evidências do crime.
O que se joga se recolhe facilmente com o que se joga. Já o ambiente não se recupera nessa velocidade. Não viveremos o bastante para ver essa recuperação, com certeza isso comprometerá a saúde das pessoas e diminuirá nossa expectativa de vida.
Não percamos o caminho dos animais, continuemos na trilha. Localizamos um corredor ecológico: nada mais que grandes manilhas que possibilitam a passagem de animais de uma área para outra, só que não vimos animal algum. Seguimos em frente e passados aproximadamente 700m, muito lixo, uma colméia, a poluição sonora da rodovia que aparenta estar mais próxima depois do desmatamento e algumas construções a menos de 30m do rio, o Edison avistou algumas capivaras, as quais se jogaram no Jacaré em menos de dois segundos.
O rio não estava com outra cor esquisita e as capivaras também não bateram as cabeças nos pneus, então acho que, considerando-se a capacidade do fígado de regenerar-se após contato com o esgoto doméstico, as capivaras irão sobreviver a essa tentativa de fuga.
Em instantes, só com o girar do pescoço percebi que o Edison iria pisar sobre um, um, ... um monte de bosta, ou deveria dizer cocô? Gritei: cuidado(!) mas mesmo assim ele acabou raspando naquela sujeira. Não houve a rapidez da criatividade dos apresentadores do programa “5ạ Categoria” da MTV e ao invés de enfiar o pé nos montes de fezes de capivara que encontramos durante a caminhada, pisoteou mesmo em excremento humano. Ah! Não faltou papel higiênico para a parceria com o monte, o distinto cidadão não se esqueceu de utilizá-lo e nem de deixá-lo para contribuir com toda aquela poluição.
Enfim, a JAPPA esteve no Parque, apresentou algumas orientações para o Diretor juntamente com a recomendação de que entre em contato com a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo para uma avaliação da população de capivaras (e talvez do ratão-do-banhado) do Parque e em seguida com a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo para um possível monitoramento acarológico."
Luiz Paulo Cobra M. Filho
Médico Veterinário Especialista em Clínica Médica de Animais Selvagens
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