Fonte: Divulgação [-] [+]
“O perdão é uma necessidade absoluta para a continuidade da existência humana".
O sentimento mais louvável da Humanidade, possibilita o processo civilizacional de todos nós, habitantes deste planeta. Sem perdão a humanidade pára, estagna e solidificasse e isto estendesse para qualquer ser humano. È um recurso psicológico e social que regula as relações humanas. Permite, p. ex, que uma relação de amizade progrida e amadureça, que um casamento tenha continuidade depois de inúmeros conflitos, que as relações no trabalho sobrevivam aos desentendimentos.
Todas as ciências recomendam o perdão para o benefício do corpo, da saúde psicológica e das relações interpessoais. O perdão está no centro de qualquer processo curativo, porque ele promove novos começos (todos nós precisamos de novos começos), tanto para quem perdoa como para quem é perdoado (embora isto não seja sempre assim e vou explicar porquê mais adiante).
Hoje são conhecidos os inúmeros problemas que advêm do “não perdoar”, p. ex. depressão, dores de cabeça, dores musculares (principalmente nas costas), fibromialgia, gastrites e úlceras, problemas cardiovasculares (hipertensão) e intestinais, baixa imunidade, doenças alérgicas e asma, etc. Normalmente defendesse muito a ideia que é mais fácil não perdoar do que perdoar, errado!
Perdoar dá-nos sustentação, segurança, contrariamente, não perdoar faz-nos sentir desamparados, desprotegidos, permanecemos na posição de vítima. Não perdoar é mais difícil do que perdoar por inúmeras razões: poderia citar inúmeros estudos científicos que demonstram, sem qualquer duvida que, a amargura, raiva e ódio reprimido prejudicam gravemente a saúde, comprometem o sistema imunológico e as doenças encontram um portão escancarado para se instalarem e desenvolverem, acabando por fim em cronicidade e/ou morte. P. ex a raiva é uma boa estratégia a curto prazo para lidar com eventos dolorosos, o problema é quando mantém-se no tempo com o objectivo de causar dano a quem nos feriu, a vida estagna enquanto a raiva não for eliminada.
È impossível não sentir ou evitar o impacto da raiva, é fisiológica, faz parte do nosso corpo, reagimos ao momento. È como se um raio nos trespassa-se.
O problema é quando conservamos a magoa, e aqui depende da nossa vontade, ao conservá-la certamente desenvolvemos um transtorno psicológico. O que seria normal era libertarmo-nos de tudo o que nos perturba. Somos inteligentes e possuímos os mecanismos de libertação mas o problema é que não nos ensinaram (pelo contrario), treinaram ou alertaram para “deitar fora” uma quantidade de lixo psicológico (emocional) que gradualmente acumula-se desde que nascemos, depois, toda esta carga torna a vida cada vez mais difícil e complicada, infiltra-se em todas as vertentes do dia à dia e convivermos uns com os outros passa a transformar-se em algo de insuportável.
Não é invulgar para nós presenciarmos que uma simples troca de palavras seja o rastilho para um desfecho bem grave. Há dias presenciei uma situação dessas, uma troca de insultos entre dois condutores, desconhecidos, que acabou num confronto físico.
E pergunto: mas o que é que se está a passar connosco?
Tudo na natureza regenera-se de outra forma morreria, para tal é necessário o equilíbrio, esse equilíbrio só é possível se transformarmos o lixo emocional, para isso temos um grande “reciclador” que é o perdão.
O perdão é a cirurgia plástica que fazemos em nossa alma para remover as marcas do passado.
Então o que é perdoar?
O perdão é o processo de abandonar o nosso vínculo com o passado (não podemos esquecer que passado foi já ontem!). Quando libertamos as nossas dores desligamo-nos emocionalmente do passado, o que não significa necessariamente esquecer.
Uma das bases essenciais no processo de cura interior baseia-se no facto de que, não importa o que me fizeram mas o que Eu “vou fazer” com o que me fizeram (essa é sem duvida uma responsabilidade minha). Para podermos perdoar realmente é necessário aflorar o que os outros fizeram, por mais doloroso que possa ter sido e então decidir o que fazer com todo aquele lixo e com um conjunto de subprodutos como a raiva, rancor, magoa e dor. È dar o direito de cada um ser como é e também a nós o direito de sermos quem somos. Se o outro é de uma determinada forma não me cabe a mim modificá-lo, mas a mim sim, cabe-me o dever de modificar-me e a cada dia ser melhor.
Se cada um, a partir de hoje, cumprisse com a sua parte, certamente amanhã encontraríamos um mundo muito melhor.
Os Sentimentos - O PERDÃO (parte 2)
Estamos de volta ao Perdão, vamos primeiro aproximar a “lente”e visionar o que “o perdão não é”.
Confunde-se perdão com outros conceitos, o que confunde e pode mesmo impossibilitar o genuíno perdão.
1. Perdoar não tem haver com justiça. Não é necessariamente um processo justo. A maioria das pessoas gostaria de viver num mundo seguro, compreensivo, organizado, por aí… e justo, mas um mundo visto nesta perspectiva é pura ilusão. Então perdoar implica esta aceitação da realidade tal como ela se nos apresenta. Eu posso vivenciar e percepcionar todas as injustiças que me cercam mas isso não faz de mim uma pessoa injusta para mim e/ou para os outros.
2. Perdoar não é aceitar ou submeter-me. È importante este reconhecimento quando o perdão vem por insegurança ou pelo medo de ficar sozinho. P. ex uma mulher que é violentada pelo marido pode dizer que o perdoa e continuar a submeter-se aos maus tratos.
3. Perdoar não é necessariamente desculpar. Desculpar significa deixar passar uma ofensa sem penalidade. Há situações em que desculpar inclui o perdão mas nem sempre isso ocorre. P. ex os pais devem perdoar os filhos (não guardar ressentimentos, rancor ou raivas) mas há coisas que não devem desculpar, por outras palavras, esquecer as consequências.
4. Perdoar não requer reconciliação. É talvez a maior confusão quando se fala em perdoar. Realmente pode incluir a reconciliação mas não necessariamente e por vezes, está mesmo fora de questão. P. ex nos casos de abuso sexual de crianças, o culpado nunca admitirá ter causado dano tão grave à vitima. Nestas situações o perdoar e sarar envolve um desligamento do agressor, afastar decididamente o agressor e posteriormente até a vitima mudar-se para outra cidade, estudar longe, afastar-se de um contacto possível com agressor.
Nestes casos, é claro, a reconciliação não é possível, primeiro porque o agressor não admite ter cometido um erro e mesmo com uma confissão não é aconselhável de forma alguma, principalmente crianças, permanecerem na proximidade. Assim, não envolve necessariamente reconciliação ou absolvição.
Então perdoar envolve um desligamento de erros passados (seus e/ou dos outros), desligar-se da vergonha, da culpa, da sensação de embaraço e ridículo, da humilhação dos seus fracassos passados (infligidos por si ou por outros).
Culpar é uma recusa a assumir responsabilidade da realidade de que todos os humanos infligem sofrimento, consciente ou inconsciente.
Culpar é uma desculpa para não examinar as nossas próprias falhas e que nos mantêm inconscientes do nosso interior. Engraçado que, esta falta de consciência que agora insisto em manter é idêntica, pois o processo é o mesmo, à inconsciência do agressor (que nos magoaram e/ou magoam).
Se o agressor tivesse consciência da sua própria dor certamente não teria infligido tanto sofrimento ao outro. E é aqui que a nossa responsabilidade reside. Um outro aspecto importante que convêm relembrar são as recomendações feitas ao longo de milhares de anos, em todas as religiões e filosofias do mundo, sobre a eficácia do perdão, dando-nos a certeza de como o perdoar funciona. Porque não confiar na sabedoria das eras?!
Perdoar significa deixar fora o “excesso de bagagem” que se acumulou ao longo de anos.
Também significa deixar de vez as fantasias de retaliação, vingança, ódio e rancor contra aqueles que fizeram os danos e canalizar toda essa energia para si e para novos projetos.
E como é que se faz tudo isto? Boa pergunta! Não é fácil mas possível.
Tudo começa pela pergunta: quero mesmo melhorar? Estou disposto (a) a aguentar o desconforto para melhorar? Sanar a dor consiste em liberar o perdão cujo ponto inicial é a dor, a magoa. È preciso relembrar, falar, chorar quantas vezes for necessário das dores, humilhações que deixaram tatuagens profundas, expressar os sentimentos, rasgar o coração. Nesta fase sentir raiva, tristeza, indignação…são sentimentos que afloram. Este é primeiro momento de vivenciar a própria dor, ter a coragem de vê-la, presenciá-la para depois resolvê-la.
Os sentimentos vão pouco a pouco sarando a dor, não esquece mas não dói mais. Em seguida vem a reformular, ver sob uma nova perspectiva, a aceitação, perdão e reconstrução de uma nova vida, agora liberta dos fardos pesados.
Uma das belezas do perdão: quanto mais pessoas perdoamos menos pessoas ofensivas nos surgem no presente.
Nunca esquecer que, a nossa recusa em perdoar prejudica somente a nós próprios e não aos outros.
Nossa recusa a perdoar é o segundo dano que fazemos a nós próprios além do dano já infligido pelos outros. “Dê mais valor a tudo o que vem e menos valor a tudo o que vai!
(Fonte: Mónica Camacho/Enviado por Sônia A. Camargo Prina)
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