A 15ª edição da Parada do Orgulho LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), realizada neste domingo (26) em São Paulo, levou cerca de 4 milhões de pessoas para a avenida Paulista, região central, segundo estimativas da organização
A parada deste ano teve como tema a frase "Amai-vos uns aos outros: basta de homofobia" e ganhou um aspecto comemorativo depois que o STF (Supremo Tribunal Federal) reconheceu a validade da união estável homoafetiva no Brasil
A festa começou por volta das 13h30 com uma valsa dançada em frente ao Masp, que logo se transformou em música eletrônica e deu início ao desfile de uma sequência de 16 trios elétricos que animaram a multidão fantasiada e colorida que chegava.
O último trio passou por volta das 18h30 na praça Roosevelt, levando uma mensagem da organização para os participantes: "Pecado é ser intolerante! Contra a homofobia, a luta é todo dia!".
PARADA
A Parada Gay de São Paulo é considerada a maior do mundo. A passeata teve início após discursos da senadora Marta Suplicy (PT-SP) e do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ).
O evento é muito mais heterogêneo do que o nome sugere. Ao lado de drag queens com perucas gigantes e transsexuais de seios expostos se encontram pais com filhos pequenos, casais de namorados heterossexuais e idosos
"É um dia gostoso para se divertir com a mistura de raças e sexo", afirmou a auxiliar administrativa Ana Carolina Oliveira, 34, ao lado do filho de três anos e da filha de 15. Esse é o quinto ano que ela participa do evento.
O casal de empresários Bete Paiva, 48, e Roger Camargo, 55, também marcaram presença e destacaram a importância da luta contra o preconceito. "Vamos até o final. A chuva não desanima" disse ele. "A gente vem dar apoio contra qualquer tipo de preconceito", afirmou Bete.
Até mesmo grupos normalmente associados a atitudes homofóbicas demonstraram seu apoio.
Integrantes da Igreja Cristã Evangelho para Todos distribuíam panfletos com a frase: "Para Deus somos todos iguais. Amor não é pecado".
Um grupo de punks e skinheads, chamados Ação Antifascista, também participou da Parada Gay. Cerca de 40 integrantes apareceram na Paulista com uma faixa dizendo "punks e skinheads contra a homofobia".
Mas o show é mesmo dos LGBT's. Com roupas e fantasias confeccionadas especialmente para o evento, travestis, gays, lésbicas, bissexuais e transformistas ignoraram a chuva que caía e dançaram ao som de clássicos como "It's Raining Man" e hits da artista-fetiche do mundo gay, Lady Gaga.
O grande sucesso foi o estilo moicano Neymar. Eram muitos os gays que usavam o cabelo espetado, tingido nas pontas. "Foi o Neymar quem copiou os gays, e não nós que copiamos ele", disse o cabeleireiro Gustavo Cley, 19.
SEGURANÇA
A Parada Gay transcorreu sem grandes tumultos ou ocorrências graves registradas pela Polícia Militar, mas criminosos fizeram um arrastão logo no início do evento, em frente ao Masp, que deixou muitos participantes sem celular e carteira.
Uma adolescente de 19 anos que não quis se identificar reclamou que ficou sem o celular. "Tá faltando polícia e tá tudo muito desorganizado", disse ela.
Participantes da parada apontam que um grupo de cinco jovens teria participado do crime, roubando inclusive óculos de sol. Segundo a polícia, duas vítimas do grupo reconheceram um rapaz como responsável pelos roubos. Ele foi preso.
"Ele vai ter que devolver meus óculos. Eu paguei R$1.600", disse o ajudante de cozinha Leandro Marcos dos Santos, que trabalha na região e entrou em luta corporal com o adolescente.
Ao menos três pessoas foram detidas neste domingo durante a Parada Gay de São Paulo, após serem flagradas com entorpecentes, entre elas uma garota menor de idade que carregava 166 frascos de lança perfume e 53 invólucros de cocaína.
Mais de 1.400 policiais militares foram escalados para reforçar o policiamento na região. Um helicóptero da polícia também sobrevoava a multidão de tempos em tempos. Um possível confronto entre as torcidas que saíam do jogo Corinthians e São Paulo no Pacaembu não ocorreu.
Os números de atendimentos feitos pelos postos médicos foram considerados normais. No posto da rua Maria Antônia foram atendidas cerca de 75 pessoas, a maioria por embriaguez.
O sentimento geral é de que a 15ª edição da Parada foi um sucesso. "Ninguém jogou bomba na gente", disse Charlotte Wolff, 25, referindo-se à Marcha da Maconha, em maio deste ano, em que a polícia usou balas de borracha e bombas de efeito moral contra manifestantes. "Foi a melhor edição, sem violência, e não sofremos 'bullying'", acrescentou.
Evangélicos
Com panfletos e pregações, um grupo de quatro evangélicos batistas de Santo André (SP) resolveu ir à Parada Gay para tentar "livrar os homossexuais de uma vida de sexo livre, prazeres vazios e vícios" e, segundo este grupo, encaminhá-los ao que chamam do caminho correto indicado por Jesus, longe da homossexualidade.
“Aqui é um momento de diversão passageira, vazia. É uma alegria repleta de vícios, bebida e sexo livre. Depois que passa tudo isso, o que fica? A frustração. A verdadeira alegria é Jesus”, disse Ivo Navarro, 44. “Eu buscava aquilo, mas quando descobri Jesus vi que a vida não é isso”, afirmou, em tom de pregação.
Bronca
Perdida em meio à multidão enlouquecida da Parada Gay, a artesã Imperatriz Favola, 21, mostrou incomodo pelo fato da bandeira multicolorida do movimento LGBT ser semelhante a da sua cidade natal, a tradicional Cuzco, antiga capital do império Inca, no Peru. “Em Cuzco a bandeira é igualzinha. Isso não é bom” afirmou a tímida artesã que vive há dois anos em São Paulo. “Não combina”, disse a artesã.
(Fonte: UOL/Folha)
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