Já era esperado que o juiz Sérgio Moro aceitasse a denúncia contra o ex-presidente Lula, a mulher dele Marisa Letícia e outras seis pessoas. Nem a rapidez da decisão surpreendeu devido ao histórico de outras decisões do magistrado nos processo da Operação Lava-Jato. A reação inicial de Lula também foi a esperada - de continuar denunciando ser vítima de perseguição política por parte da força tarefa instalada em Curitiba para investigar malfeitos na Petrobras.
Mesmo assim, quando a notícia foi divulgada, no início da noite, causou rebuliço nos meios políticos, pois veio a comprovação definitiva de que os investigadores e o juiz não medem nenhum tipo de conveniência política nem eleitoral nem de prestígio em suas ações. E porque ainda se comprovou pelo despacho que Moro continua cauteloso – e procurando ater-se exclusivamente às questões técnicas.
No despacho, o juiz mostrou que não se impressionou nem com o que muitos chamaram de “exibição midiática” do procurador Deltan Dallagnol, nem com as acusações de perseguição política e falta de embasamento em provas da peça do Ministério Público do Paraná. Sobriamente, considerou as evidências apresentadas pelos procuradores suficientes para aceitar a denúncia, mas disse que a acusação “terá de produzir prova acima de qualquer dúvida” para a condenação. Ou seja, em suas mãos o processo correrá exclusivamente no campo jurídico – o jogo político fica apenas para o consumo externo.
Esta aí a explicação porque crescem os movimentos em Brasília para tentar, de uma forma ou de outra, limitar não só a ação da Operação Lava-Jato como também conter suas consequências que mais diretamente afetam o mundo político-partidário. Dá-se tratos à imaginação em Brasília.
Fracassou por pouco a tentativa, segunda-feira (19), de aprovar uma anistia para o caixa 2. Contada toda a história das manobras de segunda-feira para aprovar na surdina o projeto, viu-se claramente que o envolvimento na trama foi generalizado, sem cor “ideológica, partidária ou religiosa”. Salvaram-se apenas o Rede e o PSOL. Pelo andar do dia de ontem, não houve desistência, porém – vai-se, apenas, tentar-se dourar a pílula, aprovando-a no bojo mais amplo das propostas de aperfeiçoamento da lei anticorrupção apresentadas pelo Ministério Público e em estudo em comissão especial da Câmara.
O pavor cresce na medida em que se aproxima a delação premiada dos executivos da Odebrecht e entram na reta final a tomada de depoimento de outros delatores. De acordo com algumas informações, a lista de parlamentares e políticos de beneficiados somente pela empreiteira baiana está próxima dos 100, sem distinções partidárias, de A a Z.
RENAN CRÍTICA O ‘EXIBICIONISMO’
DOS PROCURADORES
Antes de explodir de Curitiba a noticia da decisão de Moro de aceitar a denúncia contra Lula, o presidente do Senado, Renan Calheiros, ele mesmo citado em algumas das delações já conhecidas, deu o tom da disposição dos políticos em relação a esta questão. Em princípio, elogiou a Operação Lava-Jato, que ele chamou de “avanço civilizatório”. Porém, na sequência, bateu: criticou o “exibicionismo’ dos procuradores e disse que esse comportamento acaba reforçando as pressões para votação de projetos que tratem de “preservação de garantias”.
É bom lembrar que tempos atrás Renan tentou aprovar um projeto que trata da questão do abuso de autoridade e que só recuou depois da péssima repercussão dessa ideia junto à opinião pública e a setores do Judiciário e do Ministério Público. O presidente do Senado também não esteve alheio às manobras para aprovar a anistia para o caixa 2.
Lula já é réu em outro processo, em Brasília, sob a acusação de tentar obstruir a Justiça. Mesmo com a eficiência de Moro em Curitiba, pelos ritos processuais uma sentença no caso de ontem demorará meses, possivelmente não ocorra nem no ano que vem. Para ficar inelegível, Lula teria de ter não só uma sentença condenatória de Moro, mas também de um colegiado de segunda instância. Portanto, por aí, ele dificilmente ficará inelegível em 2018.
Contudo, a decisão de Moro é mais um “estrago político” para o ex-presidente e para o PT, pois o ex-presidente, fragilizado, terá de dividir entre a política e o partido e a própria defesa. Ademais, o PT não se preparou para não contar com o ex-presidente na disputa presidencial, seja por esta razão, seja por qualquer outra.
TEMER NA ONU: O IMPEACHMENT FOI LEGAL
A outra questão política de destaque foi o discurso do presidente Michel Temer na ONU, que perdeu a manchete dos jornais brasileiros para o caso Lula. Um discurso bem ao estilo “itamaratyano”, “correto e sem grandes revelações e emoções” como classificou um ex-diplomata. Mostrou apenas o já sabido: uma guinada na política externa brasileira pós Lula e Dilma.
O destaque ficou para a referência, sem dizer explicitamente a palavra, ao impeachment. A referência foi para desfazer a tese do “golpismo” (palavra também não citada) que o teria levado à presidência e que tem algum som no Exterior. A referência, enfatizada, foi a de que todo o processo de “impedimento” (não citou nominalmente a ex-presidente Dilma) se deu dentro do estabelecido na Constituição. A referência é: o país vive plena “normalidade democrática”.
Criticou também o protecionismo, com referência especial à área agrícola, e num recado aos investidores, alguns dos quais está encontrando agora em Nova York, disse que o Brasil já cresce após o impeachment. (Fonte: José Marcio Mendonça/Infomoney)
Leia também:
Governo quer aposentadoria aos 65 anos para homens e mulheres
Veja Mais noticias sobre Brasil