Independentemente da métrica que se tome (a dos organizadores do evento, mais de 6 milhões de participantes; a das Polícias de Militares, mais de 3 de milhões, as adaptadas com dados de institutos de pesquisas, cerca de pouco mais de 2 milhões), a realidade é que as manifestações políticas de domingo (13) foram as maiores já realizadas no país e deixaram um claro e inequívoco recado: o país não está satisfeito com o governo que está aí e com a presidente Dilma Rousseff, além de condenar também o ex-presidente Lula e o PT.
Adicionalmente, em menor grau, sobrou também repreensão para as oposições formais, em fatos com os constrangimentos e as vaias enfrentadas pelo governador Geraldo Alckmin e pelo senador Aécio Neves, ambos caciques do PSDB, e a senadora Marta Suplicy, em transição do PT para o PMDB na capital paulista, e o impedimento, em várias cidades, de parlamentares e políticos conhecidos discursarem. Em sentido amplo, as passeatas foram condenação dos partidos e da política dos políticos. Não foram antipolíticas, foram por uma nova política.
E não pode haver a desculpa, como pipocou nas redes sociais, de que foi um movimento dos “coxinhas”, que o “povão” estava ausente. Segundo o jornal “O Globo”, dirigentes do PT e de movimentos sociais reunidos em São Paulo para analisar as manifestações, reconheceram que, pela primeira vez, houve participação da classe trabalhadora num evento desse tipo e que as passeatas ganharam um caráter apartidário.
Saíram fortalecidos do impressionante espetáculo cívico deste domingo o juiz Sérgio Moro e a Operação Lava-Jato. A interpretação corrente é que qualquer manobra para conter as investigações do petrolão, se ainda forem tentadas, serão rechaçadas de alguma forma pelas forças sociais. Admite-se também, porque a palavra “impeachment” foi outra presença de destaque no evento, que o processo de impedimento da presidente Dilma Rousseff deverá ser deslanchado, ganhou robustez.
O Brasil mostrou que, como está não pode ficar, até porque, o governo está totalmente paralisado, com uma única prioridade: evitar a cassação do mandato da presidente. A definição dessa situação – se ela sai ou se ela fica – é essencial para que o governo volte a trabalhar, o Congresso se concentre nas votações dos projetos da reforma fiscal e a economia comece a dar sinais de que vai se recuperar.
STF define quarta a regra do impeachment
Objetivamente, o processo do impeachment, com o empurrão de ontem, deve dar passos largos esta semana. O ministro Luiz Roberto Barroso marcou para quarta-feira(16) a apresentação de votação de seu parecer sobre as contestações (embargos declaratórios) apresentados pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, contra algumas das regras para a tramitação do impeachment, ditadas pelo STF. Com isso, a Câmara poderá começar a discutir o caso para valer.
A esperança de Cunha e dos defensores do impeachment é que pelo menos um dos pontos seja modificado: o que determina que a escolha dos membros da Comissão da Câmara que vai dar o parecer inicial seja feita pelos líderes partidários, sem a possibilidade de candidaturas avulsas. A norma é considerada favorável à presidente, que bem ou mal ainda tem influência sobre os lideres dos partidos aliados.
Porém, a questão que se põe agora, a partir das manifestações de ontem, é sobre o efeito das multidões que foram para as ruas sobre o humor dos parlamentares governistas, a maioria muito sensível a essas coisas. Os políticos que estavam em Brasília ontem e mesmo em seus estados que se manifestaram publicamente ou reservadamente para jornalistas, estavam entre assustados e paralisados. Muito por oportunismo, podem crescer as deserções do lado do governo.
É precipitado, porém, como alguns analistas já estão palpitando, dizer que o impeachment de Dilma é agora uma questão de algumas semanas. O governo tem como atuar ainda - mesmo atarantado, ainda conta com grande poder de “sedução”. E Dilma pode mudar seu comportamento gerencial, para se salvar. O Brasil deve se preparar para pelo menos quatro situações:
(1) Dilma ficar como está agora, o governo arrastando-se como no fim do mandato de Sarney; (2) com Dilma em outra versão, talvez com algum acordo de emergência com a oposição; (3) com o impeachment, e com Temer na presidência, governando com um grande acordo nacional; (4) com a chapa de Dilma/Temer cassada pelo TSE e uma nova eleição – direta se a decisão se der até o fim do ano, indireta pelo Congresso se for depois.
A renúncia é carta fora do baralho como Dilma deixou claro na sexta-feira. A conversa de um semiparlamentarismo (ou semipresidencialismo) saída da cachola do PMDB e de Renan Calheiros é uma jabuticaba política apenas.
Difícil precisar qual desses cenários prevalecerá, porém o primeiro e o último parecem os mais improváveis.
O que será de Lula?
Incógnita também é o novo cenário para o ex-presidente Lula - e paralelamente para o PT. Acuado pela operação Lava-Jato, alvo das manifestações, como ele vai reagir? Vai agitar os movimentos sociais ainda fieis a ele? Vai aceitar algum tipo de diálogo e acordo com a oposição? Diante das novas circunstâncias, vai aceitar o convite da presidente Dilma para assumir um ministério e tentar recompor a base governista?
O PT defende que sim, ainda acredita que o ex-presidente pode reaglutinar as forças aliadas em torno de Dilma e manter apoio dos sindicatos. O nó é como fazer isto sem mudar a política econômica e sem desgostar mais os agentes econômicos privados que querem mais ajuste fiscal e reformas estruturais.
Havia interpretação de que o movimento vai influenciar decisivamente na tomada de posição do PMDB de romper ou não com o governo. Bem a seu estilo, o partido, embora tenha dado à sua Convenção Nacional um caráter francamente oposicionista (só discursos de crítica à Dilma e ao governo, ante o silêncio até dos ministros da presidente) deu-se um prazo de 30 dias para confirmar se vira oposição. O PMDB quis ver para onde o vento vai soprar para valer. O primeiro sinal foi que a biruta apontou fortemente para o afastamento.
A grande expectativa, porque ele também, mesmo com todo aparato de informação foi surpreendido pelo vigor das passeatas, é a reação do Palácio do Planalto. E adicionalmente a do PT e dos movimentos sindicais e organismos sociais ligados ao partido. A presidente e adjacência terão entendido o real significado das manifestações, uma condenação a atual forma de governar de Dilma e suas conseqüências para a economia?
Domingo (13), depois de carregadas reuniões, o governo limitou-se a soltar uma nota lacônica, óbvia, celebrando o caráter pacífico das manifestações e celebrando a civilizada demonstração de democracia. Dá a impressão de esperar uma “contraprova”, um “contramovimento”, com as manifestações marcadas pelo PT, sindicado e movimentos sociais a favor do governo para sexta-feira 18.
Reportagem do “Valor Econômico” diz que a presidente Dilma Rousseff procura um fato política relevante para contrapor às manifestações. Poderia ser, por exemplo, a nomeação de Lula para o ministério ou até, como sugestão de auxiliares, o início de um diálogo político com os ex-presidentes.
Como alertou o juiz Sergio Moro, responsável pelas investigações da Operação Lava-Jato e o grande incensado pelos manifestantes domingo (13), “será preciso ouvir a voz das ruas”. Dilma vai mudar, empenhar-se mais na defesa das políticas capazes de dar rumos à economia? O PT e adjacências aceitarão as propostas do governo de reformas estruturais? No fundo, foi a insatisfação com a situação econômica (queda da renda, aumento do desemprego, falta de perspectivas visíveis de melhora), o grande motor das manifestações de ontem.
E quanto à oposição: ela estará à altura dos desafios que tem pela frente, entendeu que também está na berlinda?
Como o pano de fundo de tudo isso está a Operação Lava-Jato, suas novas revelações das mais recentes delações premiadas e outras que estão em negociação. Uma bomba cujo alcance ninguém é capaz de prever.
A verdade é que o Brasil político não é mais o mesmo desde domingo (13). (Fonte: José Marcio Mendonça/InfoMoney)
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