Semana passada, a partir de uma informação veiculada pelo colunista Merval Pereira em “O Globo”, veiculou-se que a popularidade da presidente Dilma Rousseff, levantada em pesquisas reservadas de cunho do próprio Palácio do Planalto, havia caído abaixo de dois dígitos – mais especificamente para 7%.
O que, segundo interpretações, explicaria a retomada das aparições públicas e das viagens aos Estados da presidente para inaugurar obras. Dilma mantinha-se recolhida desde após o segundo e até o Carnaval, com esporádicas aparições.
O panelaço de domingo retrasado e as manifestações de domingo passado comprovariam essas perdas na avaliação positiva da presidente de acordo com as pesquisas palacianas. Seu índice seria pior até que o do ex-presidente Fernando Collor de Mello na fase mais aguda do processo de impeachment.
As interpretações ficaram no ar
Até que o DataFolha foi a campo na segunda e terça-feira e comprovou, conforme material publicado na edição da “Folha de S. Paulo” de hoje(18), que realmente a avaliação da presidente está em queda livre, ainda que não tenha atingido o número com o qual se especulava que o governo trabalhava.
Segundo o instituto, apenas 13% dos brasileiros consideram a gestão a presidente boa ou ótima. É a pior taxa de aprovação de Dilma desde o primeiro mandato. Foi um tombo de dez pontos percentuais em menos de um mês: no início de fevereiro esse número era de 23%. É número idêntico ao pior de Fernando Henrique Cardoso, quando o PT se animou a ensaiar uma campanha “Fora FHC”.
Na outra ponta, 62% dos entrevistados classificam o governo como ruim e péssimo. Foram ouvidos 2842 eleitores e a margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.
Um tombo generalizado
De acordo com alguns analistas, o fato de a sondagem ter sido realizada imediatamente após as passeatas que levaram às ruas do país de 1,5 milhão e 2 milhões de pessoas para protestar contra o governo, pode ter influenciado nesse resultado. Mas não o suficiente para gerar uma perda tão grande entre uma pesquisa e outra. A influência maior teriam sido mesmo a falta de ação do governo desde as eleições e as notícias negativas na economia e sobre o petrolão.
E é uma queda generalizada, conforme a interpretação dos responsáveis pela realização da pesquisa, Mauro Paulino e Alessandro Janoni, do DataFolha: até nos estratos mais beneficiados pelas políticas sociais oficiais a rejeição ao governo disparou. Porém. o instituto constatou que nem todos os que condenam o governo foram para as ruas. Os estratos mais baixos tiveram pouca participação nas manifestações de domingo. Ainda é uma maioria insatisfeita silenciosa.
O pessimismo da sociedade também piorou: para 60% dos entrevistados pelo DataFolha a economia anda vai decair, maior índice desde dezembro de 1997. Em fevereiro passado esse número era de 55%. Quanto ao desemprego, 69% acreditam que ele tende a aumentar, embora a maioria, 61%, não tema perder a ocupação.
A condenação não fica restrita ao governo: constata-se que o Congresso vive sua pior crise com a opinião pública desde a revelação do escândalo dos anões do Orçamento em 1993.
Abandono e traição
Um documento preparado pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República e vazado ontem mostra que auxiliares da presidente já anteviam o quadro levantado pelo DataFolha: diz que os eleitores de Dilma estão magoados. Segundo o relatório, publicado inicialmente no site de “O Estado de S. Paulo”, há um sentimento de “abandono e traição” entre os que elegeram a petista.
Sentimento causado por um conjunto de fatores, diz a análise: o duro ajuste fiscal, com contaminação dos programas sociais; a ausência de agendas públicas até o carnaval; as mudanças nas regras do seguro desemprego e da pensão por morte; o “desastroso anúncio dos cortes no Fies; os aumentos nos preços da gasolina e da energia elétrica; as denúncias na Petrobrás; o “massacre” no noticiário da televisão.
A solução apontada é de mais marketing, aliás, já posta em parte em prática: convencer a presidente a falar mais, se expor mais. Diz que a publicidade oficial em 2015 deve ser focada em São Paulo, onde, se viu nas manifestações de domingo, o grau público de insatisfação dos eleitores é elevadíssimo.
O documento fala ainda em comunicação “errática” e que o país vive um “caos político”.
A divulgação não só da pesquisa DataFolha, só conhecida nesta madrugada, e do documento interno de uma secretaria presidencial com status de ministério, deve causar um novo alvoroço em Brasília. E provocar reações negativas ainda maiores no Congresso Nacional e nos partidos aliados em relação ao governo, em que pese a avaliação negativa também do parlamento.
Ajustes no ajuste fiscal
O governo, em reuniões quase permanentes, com agora a participação efetiva do vice-presidente da República Michel Temer, presidente também do partido da aliança governista mais insatisfeito, está tentado recompor suas bases políticas e sua relação com o Congresso, especialmente com os presidentes da Câmara e do Senado.
Mas ainda encontra resistências objetivas. Ontem o Congresso finalmente aprovou Orçamento da União da 2015, totalmente inflado, o que obrigará os Ministérios do Planejamento e da Fazenda a novos malabarismos para garantir o ajuste fiscal. O valor final do Orçamento foi engordado artificialmente em pelo menos R$ 13 bilhões. De quebra, foi triplicada a verba do Fundo Partidário: de R$ 289 milhões para R$ 867 milhões.
Por sua vez, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, mandou avisar que o governo terá de mobilizar sua base se quiser evitar a aprovação de projetos polêmicos, execrados na área econômica porque significam aumentos de despesas, como a proposta que dá aumento real aos aposentados. Sem contar as Medidas Provisórias do ajuste fiscal.
Informa o jornal “O Globo” que, diante da pressão do Congresso, o ministro Joaquim Levy poderá subir menos as alíquotas de contribuição previdenciária. Para agradar a petistas, deve rever o corte em alguns benefícios trabalhistas também.
Em reunião com petistas, Levy, Nelson Barbosa, Carlos Gabas e Pepe Vargas mostraram disposição de negociar pontos específicos a proposta. O ministro da Fazenda reuniu-se ainda com o presidente do Senado, Renan Calheiros, para discutir o encaminhamento de outro tema polêmico: a elevação das alíquotas da contribuição previdenciária sobre o faturamento das empresas, que acabou na prática com a desoneração da folha. Segundo fontes do governo, "tudo está sendo reavaliado nesse momento, desde um aumento menor nas alíquotas até a retirada de alguns setores das novas regras".
Taxa de Rejeição
As taxas mais altas de rejeição da presidente estão nas regiões Centro-oeste (75%) e Sudeste (66%), nos municípios com mais de 200 mil habitantes (66%), entre os eleitores com escolaridade média (66%) e no grupo dos que têm renda mensal familiar de 2 a 5 salários mínimos (66%). A maior taxa de aprovação está na região Norte, com 21%. No Nordeste, 16% dos seus habitantes aprovam o governo de Dilma.
A presidente obteve nota 3,7, a pior desde a chegada de Dilma à Presidência, em 2011. Em fevereiro a nota média era 4,8. No primeiro mandato, a pior média foi 5,6, em junho e julho de 2014.
Mais detalhes: para 60%, ECONOMIA VAI MESMO PIORAR
O pessimismo econômico também foi abordado pela pesquisa e a expectativa com a situação do país é a pior desde 1997. Para 60%, a situação da economia vai piorar. Em fevereiro, a percepção de que a situação econômica iria piorar nos próximos meses chegava a 55%.Segundo o Datafolha, 69% acreditam que o desemprego deve aumentar, mas 61% pensam não correr risco de demissão. A expectativa para a maioria, 77%, é que a inflação aumentará. (Fonte: José Marcio Mendonça/InfoMoney/O Globo)
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