... Andando apressadamente de um lado para outro; fumando freneticamente; separando objetos a serem apreendidos e remetidos para a perícia técnica; solicitando via fone exames de levantamento de local, conversando com subordinados, dando ordens, quando enfim estava tudo pronto para o começo do ato, deu pela falta do escrivão.
- Onde ele se meteu agora? Anteriormente ele já tivera o mesmo comportamento.
Conversando com os presentes, soube que no início do ato, e já ia algum tempo, o escrivão saiu para tomar um café, dizendo que ia num pé e voltaria noutro. Mas nada de voltar.
A Autoridade procurou entre os presentes alguém para substituí-lo, sem sucesso. Esperou mais uns quinze minutos e já não se agüentando com a falha do subordinado, mandou procurá-lo nos botecos próximos daquela Delpol e que o trouxessem, vez que, sua indisciplina estava atrasando o ato.
Seus subordinados foram e voltaram sem o escrivão, que literalmente sumiu. Posteriormente soube-se que ele teve um mau súbito e pirou, saiu vagando por aí, sem saber quem era.
Era consenso entre seus amigos - ele estava bebendo muito ... Não se sabendo ao certo o limite entre a bebedeira e a malandragem.
A família o localizou e cuidou do mesmo, internando-o num hospital, especializado para alcoólatras, numa cidade vizinha.
A vida continuou.
Nosso herói estava internado já há algum tempo no referido hospital, e nada de ter alta.
A coisa já ia pra lá de meses, e quando das visitas da família, este se mostrava quieto, angustiado, sem brilho nos olhos, sem vontade de viver, abatido, literalmente depauperado, conforme definiu uma amiga da esposa.
A família começou a ficar preocupada e procurando informações entre as enfermeiras, e a resposta era sempre a mesma: Ele está melhorando...
Não parecia. O hospital era tipo moderninho, com dia de terapia para os internos, que nada mais era do que um bailinho, que acontecia ali mesmo no átrio do hospital, com conjuntinho da cidade, moçoilas da comunidade, convidadas etc etc.
Era o tipo de terapia que os internos mais gostavam.
Na viagem de retorno para a casa a esposa vinha triste, cabisbaixa, sem perspectiva diante do quadro, até que ouviu de uma outra esposa, que viajava no mesmo coletivo, algo inusitado:
- Eles mudam totalmente no dia do bailinho!
Aquela informação caiu como uma bomba na cabeça da esposa, pois conhecia bem o maridão, sabia de suas safadezas...
Pois, toda vez que a família do escrivão queria levá-lo embora para casa, ele se recusava, alegando que ainda não estava bom.
- Ainda...
A mulher desconfiou:
- Se ele tivesse feito transplante de todo o corpo, mesmo assim, em 160 dias ele já teria se recuperado.
- Aí tem ...
E sem que ele soubesse, a esposa apareceu inesperadamente num dia à tarde durante o bailinho. Só ficou olhando, por uns trinta minutos, tempo suficiente para ver que o seu marido, o escrivão, era outra pessoa, estava lépido, alegre, brincalhão, dançarino, o tempo inteiro dançou, paquerou, rodopiou, com várias mulheres; literalmente estava curado.
- Safado! Isso é que ele é.
Quando a esposa se aproximou, o escrivão tentou dar a impressão de ter tido uma recaída.
Não colou.
A esposa lhe deu alta!
Wagner Sampaio é Advogado
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