Em pronunciamento à nação em cadeia de rádio e televisão na noite deste domingo (8), por ocasião do Dia da Mulher, a presidente Dilma Rousseff admitiu que o Brasil passa por dificuldades, consequências da crise financeira mundial e da "maior seca" da história", e pediu paciência aos brasileiros. Disse ainda que o governo absorveu, até o ano passado, todos efeitos negativos da crise e que "agora" tem "que dividir parte deste esforço com todos os setores da sociedade".
"Entre muitos efeitos graves, esta seca tem trazido aumentos temporários no custo da energia e de alguns alimentos. Tudo isso, eu sei, traz reflexos na sua vida. Você tem todo direito de se irritar e de se preocupar. Mas lhe peço paciência e compreensão porque esta situação é passageira", declarou. Segundo ela, o Brasil tem condições de vencer os "problemas temporários", e afirmou que a vitória "será ainda mais rápida se todos nós nos unirmos neste enfrentamento".
De acordo com a presidente, "todos efeitos negativos" da crise financeira foram absorvidos pelo governo, até o ano passado, por meio de reduções de impostos para estimular a economia e favorecer a geração de empregos. Acrescentou que não havia como prever que a crise duraria "tanto" e que viria acompanhada de "grave crise climática".
"Absorvemos a carga negativa até onde podíamos e agora temos que dividir parte deste esforço com todos os setores da sociedade. É por isso que estamos fazendo correções e ajustes na economia", afirmou, acrescentando que um ajuste semelhante foi feito no início do governo Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003.
Dificuldades
De acordo com Dilma Rousseff, é preciso encarar as dificuldades "em sua real dimensão e encontrar o melhor caminho de resolvê-las".
"Pois, se toda vez que enfrentarmos uma dificuldade pensarmos que o mundo está acabando - ou que precisamos começar tudo do zero - só faremos aumentar nossos problemas. Precisamos transformar dificuldades em soluções. Problemas temporários em avanços permanentes. O Brasil é maior do que tudo isso e já mostrou muitas vezes ao mundo como fazer melhor e diferente", declarou.
Na visão da presidente da República, os noticiários "são úteis, mas nem sempre são suficientes". "Muitas vezes até nos confundem mais do que nos esclarecem", disse ela.
Nova lei para as mulheres
A presidente anunciou ainda que sancionará, nesta segunda-feira (9), a Lei do Feminicídio, que transforma em crime hediondo, o assassinato de mulheres decorrente de violência doméstica ou de discriminação de gênero. Em sua visão, este é "um novo passo no fortalecimento da justiça, em favor de nós, mulheres brasileiras".
De acordo com a presidente, com esta nova lei, este crime "odioso" terá penas bem mais duras. "Esta medida faz parte da política de tolerância zero em relação à violência contra a mulher brasileira. É assim, com medidas concretas e corajosas, em todas as áreas, que vamos, juntos, melhorar o Brasil. É uma tarefa conjunta de toda sociedade, mulheres e homens", disse ela.
Crise financeira
Dilma Rousseff afirmou ainda que o mundo passa pela segunda etapa de combate à "mais grave crise internacional desde a grande depressão de 1929". "E, nesta segunda etapa, estamos tendo que usar armas diferentes e mais duras daquelas que usamos no primeiro momento", declarou a presidente.
Disse ainda que a crise afetou "severamente" grandes economias, como os Estados Unidos, a União Européia e o Japão. E acrescentou: "até mesmo a China, a economia mais dinâmica do planeta, reduziu seu crescimento à metade de suas médias históricas recentes".
A presidente da República disse ainda que o Brasil foi um dos países que melhor reagiu em um primeiro momento da crise financeira internacional e que, neste momento, está "implantando as bases para enfrentar a crise e dar um novo salto no seu desenvolvimento". Ela afirmou que, pela primeira vez na história, o Brasil enfrenta a crise sem "quebra financeira e cambial" e, ao mesmo tempo, preservando e aumentando o emprego e o salário.
Novo 'método' contra a crise
Segundo Dilma, após o governo ter absorvido nos últimos anos todos efeitos negativos da crise com reduções de impostos para estimular a atividade e o emprego, houve uma escolha por "mudar de método e buscar soluções mais adequadas ao atual momento". "Mesmo que isso signifique alguns sacrifícios temporários para todos e críticas injustas e desmesuradas ao governo", afirmou.
Nos últimos meses, para reequilibrar as contas públicas, que tiveram o pior resultado da história em 2014, o governo subiu tributos sobre combustíveis, automóveis, cosméticos, empréstimos e sobre a folha de pagamentos. Para combater a alta da inflação, que está pressionada neste ano principalmente aumento de tarifas públicas, como energia elétrica e gasolina, e também pela disparada do dólar, o Banco Central já promoveu quatro aumentos seguidos nos juros, que estão no maior patamar em seis anos.
Além disso, informou que não fará mais repasses à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) - o que impactará a conta de luz, que, segundo analistas, pode ter aumento acima de 40% neste ano - limitou benefícios sociais, como seguro-desemprego e abono salarial, e reduziu gastos de custeio e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Economistas já preveem a maior contração do Produto Interno Bruto (PIB) em 25 anos e não afastam a possibilidade de nova recessão neste ano. No pronunciamento à nação, a presidente Dilma admitiu que espera "uma primeira reação [da economia]" no final do segundo semestre deste ano.
Objetivo das medidas econômicas
De acordo com a presidente da Repúblcia, as medidas são necessárias para "sanear as nossas contas e, assim, dar continuidade ao processo de crescimento com distribuição de renda, de modo mais seguro, mais rápido e mais sustentável". "O esforço fiscal [implementado por meio da alta de tributos e corte de gastos] não é um fim em si mesmo. É apenas a travessia para um tempo melhor, que vai chegar rápido e de forma ainda mais duradoura", afirmou.
Na visão de Dilma Rousseff, o governo está fazendo tudo de "forma realista e da maneira mais justa, transparente e equilibrada possível". "As medidas estão sendo aplicadas de forma que as pessoas, as empresas e a economia as suportem. Como é preciso ter equidade, cada um tem que fazer a sua parte. Mas de acordo com as suas condições. Foi por isso, que começamos cortando os gastos do governo, sem afetar fortemente os investimentos prioritários e os programas sociais", acrescentou.
Segundo ela, o governo está "fazendo tudo com equilíbrio, de forma que tenhamos o máximo possível de correção com o mínimo possível de sacrifício". "Mais importante, no entanto, do que a duração destas medidas será a longa duração dos seus resultados e dos seus benefícios", declarou.
Petrobras
A presidente avaliou ainda que este esforço "tem que ser visto como mais um tijolo, no grande processo de construção do novo Brasil".
"Esta construção não é só física, mas também espiritual. De fortalecimento moral e ético. Com coragem e até sofrimento, o Brasil tem aprendido a praticar a justiça social em favor dos mais pobres, como também aplicar duramente a mão da justiça contra os corruptos. É isso, por exemplo, que vem acontecendo na apuração ampla, livre e rigorosa nos episódios lamentáveis contra a Petrobras", afirmou. (Fonte: Globo/G1)
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