Alias, fez das casas da “zona de meretrício” o seu segundo lar. Ali passava todos os momentos de sua vida, quando não estava no fórum; ali era seu escritório, almoçava, jantava, trabalhava, fazia suas defesas, assistia televisão etc.
Solteirão convicto, só ia pra casa pra trocar de roupas e ver a mãe.
Essa convivência com as mulheres, fez do Dr. Viril a pessoa de confiança das quengas. Confiança é pouco para definir a amizade que os unia, ele simplesmente era padrinho, compadre, fiador, acompanhava-as ao medico, advogado, quando necessário e na maioria das vezes dormia com as mesmas.
Tudo ia bem até que se apaixonou por Analu, uma morena jambo, de um metro e oitenta de altura, corpo escultural, dentição perfeita, cabelos lisos e negros, olhos amendoados azuis, um par de ancas de égua de raça, e um jeito sedutor de ser. Um pecado mortal!
- Essas coisas que o coração não explica, resmungava.
Analu que sempre viveu na zona, livre e solta, não estava sabendo conviver com essa nova situação, pois Viril a levou para morar em sua casa, junto com a mãe.
Essa nova vida fez bem ao Dr. Viril; levantava-se cedo, ia pro escritório, recém montado, trabalhava o dia todo, se vestia melhor, comprara novos ternos, era outra pessoa!
Enquanto isso, a saudade da zona roia Analu. Esse negócio de ter uma vida certinha, com horário pra dormir, pra comer, pro marido etc, era muito estranho. Na antiga vida, se acostumara a ir pra cama quando o galo começava a cantar, sempre tomava todas, tinha muitos parceiros, a vida era dura, mas se acostumara a ela.
Por outro lado, Analu achava bonita e estranha a paixão que dispensava por Viril e era correspondida. Não sabia como contar suas vontades, suas necessidades, seu desconforto com a vida nova. Não queria magoa-lo, mesmo porque acreditava que a amizade que tinham antes de ser marido e mulher era mais importante do que o momento que estavam vivendo, mesmo porque era convivência sem compromisso, sem cobranças, sem horário.
No passado, quando eram só amigos viveram momentos felizes, toda semana saiam, conheceram motéis, restaurantes, bailões, praias, foram até pra Bariloche; e agora essa agonia de vida de casada.
O casamento estava fazendo mal para Analu, parecia que a alegria de viver tinha se acabado.
Precisava passar isso pro companheiro, queria voltar ao passado maravilhoso, sem magoa-lo.
Torcia pra que o destino tomasse partido nessa sua agonia e resolvesse a questão.
E o inusitado aconteceu. Analu recebeu um recado que sua irmã Rosileine, estava muito doente numa cidade próxima.
Conversou com Viril e resolveu ir visita-la. O marido contratou um motorista de táxi para leva-la e traze-la, no mesmo dia. O motorista um rapagão bonito, forte, cheio de boas intenções...
Analu e o motorista deveriam retornar no mesmo dia, mas isso não aconteceu.
Alguns dias depois Analu apareceu com aquele ar de felicidade nos olhos.
Viril estava desconfiando, mas também não queria magoar sua companheira; temia que ela terminasse o relacionamento, e isso não seria a primeira vez, tudo bem, desde que continuassem amigos.
Ambos se prepararam para a conversa preocupados em não ferir o companheiro. Viril começou:
- Rolou alguma coisa entre vocês?
- Rolou.
- Se quiser contar, conte, caso contrário tudo bem.
- Vou contar.
- Ele é melhor do que eu?
- É.
- Explique melhor.
- Ele é como a Varig e a Coca-Cola.
- Não entendi, explique melhor.
- Três vezes ao dia, sete dias por semana, nos dois trechos, com satisfação até a última gota!
- Entendi...
Wagner Sampaio é Advogado
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