Não faltam motivos para a empresária por trás da marca Sorridents sorrir à toa. Há 17 anos, a dra. Carla Renata Sarni comanda a maior rede de clínicas odontológicas do Brasil e a segunda maior empresa de odontologia em todo o mundo. Atualmente, são mais de 180 clínicas de tratamento dentário em 16 estados brasileiros e mais de 1 milhão de pessoas atendidas.
Carla nem sempre sonhou em ser dentista. Ainda na adolescência, estudava para ser professora de ensino infantil. Em Pitangueiras, cidade do interior paulista, ela quase se formou no Magistério - faltaram apenas seis meses para que ela se tornasse professora. Um convite do primo que iria prestar vestibular em odontologia na cidade de Alfenas, em Minas Gerais, fez com que ela mudasse de profissão.
Sem muita esperança de passar no vestibular pois sempre havia estudado em escola pública, ela resolveu arriscar. E passou! Mas como a família não tinha condições de manter uma filha estudando em outra cidade - seu pai trabalhava como motorista e a mãe como cabeleireira - Carla fez um acordo com a mãe. Disse que tentaria se manter na cidade mineira por seis meses e, se não conseguisse, voltaria para Pitangueiras e terminaria o Magistério. Neste período, a mãe comprou uma lojinha de roupa e virou fornecedora de Carla. A jovem estudante vendia roupas, sapatos e até bombom de leite ninho para tentar se manter na universidade. “Meu apelido na escola era camelô”, conta.
Durante o dia, Carla levava na mochila apenas algumas encomendas para alunos e professores. As vendas mesmo aconteciam à noite. Após um dia inteiro de aula, ela passava nas repúblicas dos colegas para oferecer seus produtos. “Passava de república em república todo dia, até a meia noite.” Tanta dedicação e empenho deram certo. Com as vendas, além de conseguir pagar seus próprios custos, ela mandava dinheiro para mãe, que acabou ficando viúva enquanto ela estudava.
A hoje doutora também encontrava tempo para participar de um projeto social desenvolvido pela faculdade, prestando atendimento aos moradores da região, que não tinham nem dinheiro nem hábito de ir ao dentista. Todos os estudantes eram obrigados a frequentar o projeto durante três meses pois as horas eram contadas no tempo necessário de estágio obrigatório para se formar. Mas Carla gostou tanto que participou do projeto o ano inteiro.
“Aquilo me fazia bem, eu gostava de ajudar quem tinha menos do que eu. E mais tarde eu colhi os frutos.” Ela se refere ao fato de ter se tornado uma das profissionais mais rápidas e experientes do hospital em que fazia residência. “Eu me destacava, já tinha a prática de ter feito muitas cirurgias de graça.” Ao final da residência, fez as malas novamente, com destino à casa dos tios em São Paulo. “Eu cheguei com a ideia de dar uma odontologia digna para a classe C e D.”
Dentes novos na cidade grande
Na capital paulista, passou por alguns consultórios até encontrar um que lhe agradasse. A dentista lembra que trabalhou em lugares que não eram tão limpos como ela imaginava e com donos não muito honestos. Mas em um consultório na Vila Císper, na zona leste da cidade, seu atendimento começou a fazer sucesso. Os pacientes ficavam até seis meses na fila de espera para serem atendidos por ela.
Em um sábado à noite, após um dia inteiro de trabalho, um homem abordou a dentista - que estava fechando o consultório - para pedir que lhe ajudasse, pois estava com dor de dente. Como ele estava desempregado, o tratamento seria gratuito. Carla topou. Ela nem imaginava que esse homem, após alguns meses, se tornaria pastor. Em seus cultos, ele contava sobre a boa ação da dentista, a única que se propôs em ajudá-lo quando ele não tinha dinheiro. “Toda vez que ele contava isso na igreja, no dia seguinte tinha fila de espera no consultório de pacientes para eu atender.”
Com um bom número de pacientes, Carla comunicou que sairia daquele emprego para montar um consultório próprio. O dono desse consultório lhe fez uma proposta, para que ela comprasse o estabelecimento. Ela aceitou, começou a faturar alto e pagou pela carteira de clientes em 12 meses.
Neste período, sua avó e uma tia tinham acabado de pagar o carnê de uma cadeira nova de dentista. Em vez de trocar a cadeira velha pela nova, ela decidiu alugar mais uma sala e chamar uma amiga para trabalhar com ela. Assim nasceu a Sorridents.
Já em sua empresa, Carla convidou outros profissionais com especialidades diferentes para trabalhar com ela. Em três anos, as cinco salas disponíveis ficaram pequenas. “Não tinha mais para onde crescer.”
Por coincidências do destino, uma vizinha colocou seu imóvel à venda. O problema é que Carla não tinha dinheiro para comprar, já que tinha investido tudo que ganhou nas salas alugadas. Nesta época, ela tinha acabado de comprar um carro por meio de um consórcio. A solução encontrada foi vender o carro para dar de entrada no imóvel e financiar o restante no banco. “Eu fiquei uma semana andando de carro, estava me achando. Mas tive que voltar a andar de ônibus rapidinho”, recorda.
Com o investimento na empresa, até o marido de Carla, Cléber Soares, trocou de profissão. O militar que cursava faculdade de Análise de Sistemas decidiu estudar Odontologia. Com a ajuda do marido, a Sorridents não parava de crescer. Juntos, eles decidiram montar um escritório para expandir o número de consultórios. Em 2005, a Sorridents tinha 23 unidades em vários bairros em São Paulo. Hoje são mais de 180 unidades em todo o Brasil.
Da odontologia ao franchising
Com a expansão dos negócios, muitos dentistas que eram funcionários da empresa de Carla pediam para ter um consultório igual ao da Sorridents. Além disso, alguns empresários procuraram o casal em busca de unidades para que os filhos recém-formados pudessem trabalhar. Com tamanha procura, Carla decidiu formatar a empresa no segmento de franquia. A estratégia deu certo. Em 2012, o faturamento da rede foi de R$ 182 milhões. A expectativa é de que, até 2016, a Sorridents tenha 500 unidades em todo o País.
Carla explica que o sucesso da empresa é baseado em três pilares: preço justo, qualidade e conveniência. Para ela, o sucesso é conseqüência de um trabalho árduo e bem feito. “Quando você levanta todo dia de manhã exclusivamente pelo dinheiro, você não tem todo o sucesso que poderia ter”, finaliza. (Fonte: Karla Santana Mamona/InfoMoney)
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