MAIS AGUA, MAIS LEITE,
mas, menos agua no leite. * *
Dia desses, a velha guarda da polícia do ABC, se reuniu no Bar da Maria para jogar conversa fora, atualizar conhecimentos mundanos, etílicos, gastronômicos; saber quem da turma subiu pro primeiro andar e comer o famoso feijão preto com tranqueira.
O ágape estava previsto para começar às 10 h, quando foi servida a primeira rodada de caipirinha e torresminho. Um longo calvário gastronômico se seguiu durante todo o dia e começo da noite.
Antes de ser servido o primeiro gole foi feito uma justa homenagem aos colegas ausentes; alguém falou rapidamente sobre a importância de se cultivar essas amizades, a seguir o festival de comilança começou.
Havia pinga de tudo quanto era marca, desde a famosa “D 4”, passando pelo “Sossego de Corno” e pasmem a famosíssima “Faz a alegria do Outro”.
O forte do bar são os antepastos. Havia uns setenta tipos deles. Resumindo: antes do almoço, todos já estavam empanturrados e bêbados. Cerveja só Original, fornecida pelos herdeiros de um amigo ausente, Sr. Giuseppe Bordenalli.
Assunto interessando foi abordado por uns policiais que fazem segurança para ricos empresários. Consta que um Senador os convidou para uma reunião para arrecadar dinheiro para a campanha. Nenhum dos convidados foi à reunião e se reuniram na fábrica de um deles, onde discutiram sobre o momento atual, reunião na qual esse policial assistiu. Durante a reunião, ficou claro que os empresários estavam revoltados com a situação de insegurança existente no eixo Rio – S. Paulo, que os obrigava a mudarem-se com a família para outros Estados da Federação. Em determinado momento um deles falou: - Além de pagarmos a conta todo fim de mês, qual a cota que nos cabe nesse latifúndio? Insegurança, omissão governamental e ainda querem dinheiro?
Os assuntos foram mudando ao longo do dia, até que o inusitado ocorreu, quando o policial conhecido por Lata Velha falou das esquisitices que ele já tinha visto, começou citado colecionadores.
Esse lhe era familiar, porque ele também era colecionador de armas antigas. Possuía centenas delas, destacando um par de Colts gêmeos, calibre 38, cano longo, niquelados, cabo de madre perola, semelhantes aos usados por Búfalo Bill, e que segundo os entendidos valeriam aproximadamente U$10 mil cada um.
Lata velha dizia que nesse mundo de colecionadores, tinha vista de tudo: colecionador de tampinhas, cerveja, whisky, flamula, carro antigo, armas, camisas de jogador de futebol, borboleta, roupas de gente famosa, autógrafos, caixinha de fosforo, amostra grátis e até de calcinhas e de chifres de animais embalsamados.
E a coisa não parou por ai. Contou que certo dia investigando um crime no centro velho de São Paulo, adentrou a um quarto, numa pensão de quinta categoria, bem ralé e deparou com um amontoado de papel velho. Começou a examiná-los e descobriu que o morador, um senhor com idade beirando os cinquenta anos, solteiro, colecionava santinhos e panfletos de políticos.
Havia papéis do Jango, Jânio, Juscelino, Getúlio, Plinio Salgado, Homem do Sapato branco, Cacareco, Ademar de Barros, Carvalho Pinto e outros menos votados.
Ante ao espanto do policial, o colecionar não entendendo e acreditando estar agradando trouxe mais papeis velhos para ele examinar, a montanha de lixo era inacessível.
Havia promessas eleitorais inusitadas, logicamente não cumpridas, prometia-se de tudo, desde a manutenção dos bondes na rua dos Trilhos, remédios grátis para os idosos, estádios de futebol, mais água mais leite, menos água no leite, segurança, guarda noturno pago pelo erário público, banheiros públicos em super mercados, e propaganda do Cacareco: Você não tem em quem votar, vote no Cacareco.
E o feijão com tranqueira? Estava ótimo, como tudo o que a Maria faz.
Wagner Sampaio é Advogado
(* Aparicio Fernando de Brinkenhof Torely, o BARÃO DE ITARARÉ, em 1.947 foi eleito à Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, na época Distrito Federal, pelo Partido Comunista, com grande votação com o slogan da campanha: “Mais água, mais leite, mas menos água no leite.”)
É oportuna e atual a recordação da preocupação do Barão de Itararé, porque no momento, além de água estão adicionando ao leite, formol e ureia.
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