Quando um rapaz de 24 anos entrou em um cinema em Aurora, um subúrbio de Denver, e matou a tiros 12 pessoas em julho deste ano, os dois então candidatos à Presidência dos EUA lamentaram a tragédia, ofereceram pêsames e evitaram questionar o direito de qualquer cidadão americano ter uma arma.
Em plena campanha, discutir a Segunda Emenda da Constituição americana, que garantia o dinheiro ao porte de armas em um tempo em que os EUA ainda tinham milícias, não era considerado eleitoralmente saudável.
Nesta sexta (14), quando um rapaz matou 20 crianças e seis adultos em uma escola de ensino fundamental em Newtown, um cidadezinha de 27,5 mil habitantes no rico Connecticut, Jay Carner, o porta-voz do reeleito presidente Obama, falou que chegaria o dia de debater a questão do porte de armas. Mas não hoje.
Tristemente, esse tipo de crime se torna mais e mais parte do repertório americano. Mas se o dia do assassinato de 20 garotos e garotas de menos de 10 anos não é adequado, haverá um momento de fato para esse debate?
Apresentadores de TV e repórteres estão chorando diante das câmaras. Crianças salvas por seus professores durante o tiroteio relatam o barulho e os gritos que ouviram aparentemente sem ter ainda a dimensão total daquilo que presenciaram. O presidente interrompeu seu pronunciamento público, de apenas cinco minutos, três vezes. Para limpar a voz embargada, enxugar uma lágrima e respirar fundo. “Ele está acompanhando o noticiário também como pai”, lembrou Carney.
Mas Obama não tocou na Segunda Emenda. Disse apenas que é preciso união para tomar “ações significativas“. O que poderia ser mais significativo do que controlar a venda de armas?
Amigas com filhos na mesma idade das crianças que foram mortas, e que vivem não tão longe de Newtown, estão distribuindo um artigo do “Huffington Post” que classifica o controle de armas como uma bandeira para os pais.
O que Carney defendeu hoje equivale a dizer que o momento de emoção não é o mais indicado para um debate sobre uma questão tão cara aos americanos, o que faz sentido. Mas quando falamos de uma escola infantil como alvo de um atirador, há como tirar a emoção da equação? E quando lembramos que este é o terceiro massacre — além do do cinema, houve o do templo sikh em Milwaukee, em agosto — em menos de seis meses, dá para dizer que as estatísticas são distorcidas?
Muitos leitores, em outras ocasiões, disseram que no Brasil a venda de armas é proibida, e as mortes por arma de fogo, mesmo assim, batem perto dos 40 mil (os dados variam conforme a fonte e o tipo de contagem).
Mas o Brasil talvez não seja o melhor parâmetro para comparar com os EUA. Em outros países ricos onde a venda de armas é proibida ou controlada, a incidência de crimes do tipo é significativamente menor do que nos EUA. A Escola de Saúde de Harvard estabeleceu a correlação entre número de armas e de assassinatos.
Mesmo assim, a discussão se complica porque a maioria dos americanos continua a ser a favor do porte de armas, e a Segunda Emenda parece intocável. A NRA, principal associação pró-armas, tem 1,7 milhão de fãs no Facebook.
Mas existe uma campanha crescente por melhor regulamentação, checagem de antecedentes, controle sobre as vendas, limitação de número e tipo de armas vendidos. É sobre esse debate que os políticos e ativistas americanos deveriam começar a construir sua argumentação.
As informações por ora, aliás, são as de que o atirador usou armas que pertenciam à sua mãe no crime. E que serviram também para matá-la. (Fonte : Luciana Coelho/ WASHINGTON - EUA)
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