Diante do mesmo algoz do Mundial de 2011 e por apenas um ponto (14 a 13), o brasileiro foi derrotado neste sábado (11), na decisão do ouro da categoria médio (até 75 kg) e volta para casa com a medalha de prata no pescoço. Como prêmio de consolação, traz do ringue dos Jogos de Londres a façanha de ter sido o primeiro atleta do país em uma final olímpica do boxe.
Os caminhos de Esquiva e Murata haviam se cruzado em outubro do ano passado em Baku, no Mundial de boxe no Azerbaijão. Na oportunidade o japonês passou por cima do jovem brasileiro na semifinal da categoria, com vitória por 22 a 12. Desde então o filho da família Falcão guardou e cultivou o desejo de encontrar de novo o algoz em cima do ringue.
No Brasil, Esquiva pregou sete cartazes no quarto da concentração da seleção brasileira com a mensagem "campeão olímpico". Já em Londres, o pugilista estudou incansavelmente vídeos de Murata durante as noites na Vila Olímpica.
Apesar da preparação devotada, Esquiva começou o combate aparentemente nervoso e caiu no jogo do japonês. Murata atraiu o brasileiro para a curta distância e encaixou bons golpes para abrir 5 a 3 no primeiro assalto.
Na seqüência, o primeiro japonês em uma final olímpica do boxe passou a encurralar Esquiva nos cantos do ringue. O brasileiro teve que recorrer ao recurso de agarrar o rival para escapar da pressão. Mesmo assim, o capixaba foi mais efetivo e venceu o segundo assalto por 5 a 4, diminuindo a vantagem de Murata para um ponto, 9 a 8..
Não restava outra alternativa, e Esquiva foi para o "tudo ou nada" no desfecho do combate, mas encontrou o adversário se esforçando para não se expor. O brasileiro foi punido pela arbitragem por agarrar Murata, perdeu dois pontos e praticamente viu as chances de vitória se esvaírem de vez. A advertência acabou sendo determinante para a derrota por 14 a 13: sem ela, o capixaba teria conquistado o ouro.
DESABAFO EM JAPONÊS
Falei para ele falar 'arigatô' para o juiz, porque foi juiz que deu a luta. Se ele não tirasse esse ponto, ele, com certeza, teria ganho a luta . João Carlos Barros, técnico da equipe brasileira, revelando diálogo com Murata depois da disputa da medalha de ouro
Assim, o brasileiro consegue a segunda medalha da família Falcão, que também comemorou nas últimas horas o bronze de Yamaguchi. Com a inspiração vinda do pai, um veterano pugilista ainda em atividade a despeito de seus 75 anos, Esquiva integra uma família numerosa - é um dos 15 filhos vivos de Touro Moreno. O medalhista teve infância e adolescência de privações materiais na região metropolitana de Vitória e chegou a flertar com a delinquência. Foi então mandado pelos familiares para São Paulo e se encontrou no boxe.
Toda esta história teve o desfecho na noite deste sábado (11). Montada em uma estrutura provisória dentro de um centro de exposições de Londres, a arena do boxe da Olimpíada viu um momento histórico do boxe brasileiro, que antes de 2012 jamais havia alcançado uma final.
A CAMPANHA DE ESQUIVA
Por ter sido medalhista no último Mundial e contar com uma boa colocação no ranking internacional, Esquiva estreou já na 2ª rodada [foi o 1º cabeça-de-chave da história do país no evento, ao lado de Everton Lopes]. A estreia em Londres aconteceu diante de Soltan Migitinov nas oitavas, com vitória tranquila por 24 a 11.
Na luta seguinte, Esquiva passou pelo húngaro Zoltan Harcsa por 14 a 10, assegurando uma medalha olímpica. Na semi, ele teve a missão de enfrentar o britânico Anthony Ogogo e toda a fervorosa torcida da casa, com triunfo por 16 a 9, com direito até a derrubar o rival no último assalto.
Antes dos Jogos de Londres, a maior e até então única façanha do boxe do país em Olimpíadas aconteceu com Servílio de Oliveira, bronze nos Jogos de 1968, na Cidade do México [categoria mosca, até 51 kg].
A medalha de Esquiva completa a trinca de pódios do boxe brasileiro em Londres, que havia começado com Adriana Araújo na categoria até 60 kg. A pugilista baiana ficou com o bronze após derrota na semifinal, nos Jogos que marcaram a estreia da disputa feminina da modalidade.
A terceira medalha brasileira (a segunda da família Falcão nos Jogos) veio com Yamaguchi. Dois anos mais velho do que o irmão Esquiva, o meio-pesado (até 81 kg) terminou com o bronze depois da derrota para o russo Egor Mekhontcev na semifinal. (Fonte: Bruno Freitas/UOL, em Londres (Inglaterra)
Leia também:
De virada Brasil vence os EUA e é bicampeão olímpico de vôlei feminino
Veja Mais noticias sobre Esporte