Tudo isso temperado com muita corrupção, carestia, trânsito infernal, insegurança, com aquela brasilidade, ginga, características de um povo gozador, sarrista, matreiro, e porque não afirmar, muito inconseqüente.
Pois é, isto posto e posto isto (eeeeppppaaa), vamos ao que interessa.
A situação estava e está tão ruim, que num passadonão muito remoto, uma grande construtora resolveu contratar centenas de peões para suas obras.
Além das exigências normais para tal, incluiu entre os exames obrigatórios, o exame de fezes.
Como é sabida, a mão de obra da construção “Sul Maravilha” é constituída na sua maioria por irmãos que vieram do Norte e Nordeste. E alguns possuem verminose, parasitas etc etc.
Se o exame acusar algum problema o candidato a peão de obra, está reprovado!
Concluindo, o cidadão é reprovado pela merda, ou afrancesado como querem alguns: “Le merde”! Abaixando a bola para uma “literatura noir”, reprovado pelo “barro, barrão, barrozo”.
Diante dessa nova circunstancia, surgiu o camelô oportunista, comercializando com muita inteligência a solução. Ohhhh raça !
Como? Simples, eles simplesmente vendem uma latinha cheia, de um produto qualificado, do primeiro mundo, produto esse pré trabalhado, pré analisado, com certificado ISO 12.000, que levado a qualquer laboratório para exame certamente garantirá o emprego do candidato.
Não se falava da origem desse produto, mas é garantido e isso é suficiente, nesse comercio informal; a confiança é tudo.
Alguns camelôs mais eloqüentes usavam como argumento também a procedência da latinha que é americana, “Made in USA”, “Trade Mark”, e o fato de você poder escolher os sabores do conteúdo: vegetariano, carnívoro, misto, mistão, especial de eggs, jasmim silvestre da Argentina, lírio da madrugada, essência do cotidiano, pastel da feira, banheiro público da rodoviária, tênis de adolescente, umbigo de freira.
Estamos importando merda para exame de peão. Que avanço!
Não acredita? Pois tais fatos saíram publicados nos órgãos de grande circulação, num passado recente, com o seguintes titulo: “Cozinheiro garante a mão de obra da construção civil.”
(Obs: Por-que o título de Nelson Rodrigues na pesente crônica? Porque ninguém como ele expressou com realidade a nossa brasilidade).
Wagner Sampaio é Advogado
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* A Desgraça Dança Mambo – Título de crônica de Nelson Falcão Rodrigues (Recife, 23 de agosto de 1912 — Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 1980) foi um importante dramaturgo, jornalista e escritor brasileiro, tido como o mais influente dramaturgo do Brasil.
Nascido no Recife, Pernambuco, mudou-se em 1916 para a cidade do Rio de Janeiro. Quando maior, trabalhou no jornal A Manhã, de propriedade de seu pai. Foi repórter policial durante longos anos, de onde acumulou uma vasta experiência para escrever suas peças a respeito da sociedade. Sua primeira peça foi A Mulher sem Pecado, que lhe deu os primeiros sinais de prestígio dentro do cenário teatral. O sucesso mesmo veio com Vestido de Noiva, que trazia, em matéria de teatro, uma renovação nunca vista em nossos palcos. A consagração se seguiria com vários outros sucessos, transformando-o no grande representante da literatura teatral do seu tempo, apesar de suas peças serem tachadas muitas vezes como obscenas e imorais. Em 1962, começou a escrever crônicas esportivas, deixando transparecer toda a sua paixão por futebol. Veio a falecer em 1980, no Rio de Janeiro.
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