“Que este caso sirva de exemplo e não aconteça em nenhum outro lugar. Que bom que colocaram essas caçambas de coleta de lixo reciclável aí pelas ruas da nossa cidade. É! Aquelas azuis, pois as verdes são para colocarmos o lixo orgânico.
Do jeito que a coisa estava indo, quase ninguém separava plásticos, vidros, papelão, garrafas pet, enfim materiais recicláveis. Juntavam tudo num saco só, colocavam na calçada para que o caminhão recolhesse e levasse embora tudo misturado. Dava dó de ver, diante de tantas campanhas para separarmos o lixo orgânico do reciclável, nada sendo feito para que isso acontecesse.
Antes de colocarem estas caçambas, até que passava um caminhão uma vez por semana recolhendo materiais recicláveis, mas a adesão por parte da população era insignificante. Eu fazia minha parte, até um papel de bala eu colocava separado do lixo orgânico, e depois de juntar com outros materiais, entregava para os recolhedores que passavam às terças-feiras de manhã. Mas ainda assim poucos tinham esta consciência.
Com a instalação das caçambas pelas ruas da cidade, ficou mais fácil, e todos passaram a utilizá-las. Tornaram-se até pequenas diante do volume de papelão e plásticos que passaram a depositar nelas.
Que bom né??
Que bom uma ova!! Vejam o que aconteceu comigo.
Isto ocorreu há uns vinte dias atrás.
Em frente à minha casa colocaram duas destas desgraçadas caçambas. Ué! Porque eu disse desgraçadas caçambas, se estava elogiando-as até agora?
Entendam o motivo:
Era uma sexta-feira, onze da manhã aproximadamente, quando encostou ao lado das caçambas um veículo. A motorista, uma moça aparentando ter uns trinta anos, bem vestida, óculos escuros, alta…, bom, mas isto não interessa, saiu do carro e carregando uma caixa de papelão cheia de garrafas pet de refrigerantes, abriu a caçamba verde, portanto a de lixo orgânico, e jogou todo este material reciclável dentro dela.
Eu imediatamente gritei:
– Moça, moça, você jogou isto aí na caçamba errada!
– Como é que é? Perguntou ela.
– Sim você colocou todo este material reciclável na caçamba do lixo orgânico. É na azul que tem que colocar isso aí! Eu lhe disse.
– E daí? Retrucou ela.
– E daí que está errado isto que você fez. Ou você nunca ouviu falar da campanha de reciclagem de materiais?
– Ô seu imbecil, você não tem nada pra fazer não? Vá cuidar da sua vida! Disse-me ela esbravejando e foi embora. Só não cantou pneu porque a rua é de paralelepípedo.
Eu já estava em cima da hora de ir para o trabalho, mas assim que voltei a tarde tirei tudo o que a chata havia colocado na caçamba de orgânico e passei para a do reciclável, com isso fiz a minha boa ação do dia, mas confesso que passei a tarde toda pensando…, será que eu sou mesmo um imbecil, como a moça disse? Eu estava certo que havia agido corretamente. Ou não?
Três da madrugada.
Chega o barulhento caminhão para recolher o lixo das caçambas, fazendo o maior escândalo, parecia que estava ocorrendo um terremoto. Eles arrastam as caçambas, batem as tampas, e falam alto. Não há quem não acorde.
Eu resolvi então abrir a janela para ver como eles procediam. É interessante. Levam a caçamba até próximo ao caminhão, engatam umas alavancas nela, e mecanicamente erguem e viram a mesma de ponta cabeça, até que todo lixo caia dentro do caminhão. Fizeram isto com a caçamba azul, de lixo reciclável.
Eu já estava fechando a janela para voltar a dormir quando fiquei abismado com o que presenciei. Deu vontade de chorar.
Os rapazes pegaram também a caçamba verde, e jogaram todo o lixo orgânico, misturando com o reciclável que acabaram de recolher instantes atrás. Caraaaaaca! Eu disse. Será que estou sonhando!?!
A primeira coisa que me veio na cabeça foi, a imagem da moça do carro misturando o lixo, e me chamando de imbecil.
Meu Deus do céu, eu sou mesmo um imbecil!! Questionei uma pessoa por ter misturado lixo reciclável ao orgânico, se o próprio caminhão recolhedor assim o fez. Só um imbecil mesmo pra fazer o que eu fiz.
Diante disto, venho a público pedir desculpas para aquela moça, e dizer-lhe que fui mesmo um imbecil ao chamar-lhe a atenção daquela maneira, na rua, com todo mundo observando. Onde já se viu separar papelão, plásticos e vidros, dos restos de comida, frutas e etc! Pra que isso? Misturar tudo é a solução, é o caminho. É misturando que nós vamos avançando. Misture já. “Olê, olê, olê, olá, é misturando que nós vamos nos salvar”. A moça não é chata nada! Eu que sou um imbecil.”
“
EM TEMPO: Comuniquei um dos órgãos de imprensa mais antigos desta cidade, que é a Folha de Valinhos, perguntando se sabem que isto acontece, e se tal procedimento está correto. Comuniquei o Departamento de Limpeza Pública, fui muito bem atendido, e concordaram que se trata de um absurdo, dizendo que o correto seria utilizar dois caminhões, sendo um para o reciclável, e outro para o orgânico; e que iriam investigar. Formalizei o caso através do serviço 156 (prefeitura). Mas até a postagem deste texto, este imbecil aqui, não obteve nenhuma resposta dos três órgãos citados.”
João Batista Pozzuto é Valinhense (e também imbecil), economista e
escritor. Autor do livro “Do outro lado do balcão”
(Fonte: Blog O melhor de Valinhos- SP/Encaminhado por Associação Amigos da Serra dos Cocais)
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