A mãe sempre presente, sempre mãe, não teve alternativa, embora contrariada cuidou de interná-lo em hospital próprio, onde permaneceu durante muito tempo.
Saiu do hospital com as recomendações de procurar o A.A.A, um psicólogo, esquecer a “mardita” e aquela mulher...
Aliás, diga-se de passagem, a mulher fatídica nunca foi sua totalmente; ora era uma companheira, ora era namorada, ora sua amante, ou representou tudo isso o tempo todo.
Era uma musa, uma deusa, um monumento de mau caminho, alguém merecedora de se beber todas, por toda a vida.
Alfredinho seguindo a recomendação hospitalar procurou Dra. Sarah, a psicóloga.
No dia da consulta, de banho tomado, compareceu ao consultório. Após as anotações de praxe, Dra. Sarah perguntou-lhe:
- Qual o motivo que o traz aqui meu jovem?
- Dra. vários motivos: É uma deusa, alguém que amei, amo e amarei por toda a vida; mas tenho todos os motivos para odiá-la.
- Ok, então conte sua contraditória história de amor.
- Ela se chama Sophia Loren, é loira, estatura mediana, cabelos e olhos claros, boca grande, lábios carnudos, anca e peito de égua de raça. Namorei com ela durante doze anos, três meses, dez horas e três minutos, em dois turnos diferentes.
- Da primeira vez começamos a namorar quando tínhamos quinze anos e o fizemos durante doze anos; pretendíamos casar; começamos a construir nossa casa, marcamos a data e aí começou a minha desgraça. Até então minha vida era um mar de rosas. Foi quando meu pai faleceu, passamos por dificuldades financeiras. Sophia era muito materialista, mesmo quando estávamos numa boa, os bens materiais, a riqueza, lhe chamavam muito a atenção. Brigávamos algumas vezes por causa disso. Sem maiores explicações ela me deixou, alegando que comigo não teria futuro. Entrei em parafuso, não sabia o que fazer; comecei a beber logo em seguida; procurei em vão esquecê-la com outras mulheres. Nas outras, a via, a sentia, sua presença era muito forte, enfim “a outra”, acabava se afastando, pensando que eu estava louco. E realmente estava.
- Num fim de ano, o clima natalino me derrubou. Bebi tanto que cai dentro de um latão de lixo, aqueles dos grandes; quase morri afogado em resto de comida, ao ficar com a cabeça atolada, os pés para cima e sem forças para dali sair. Fui salvo por catadores de lixo que precisaram tombar o latão para me retirar. Senti que cheguei ao fundo do poço. Fiquei quatro dias bebendo, até que “Mami” me internou.
- Nunca mais me envolvi com outra mulher na esperança que ela voltasse para mim. Esperei por ela anos a fio, sempre curtindo uma “dor de corno” imensa. Até comprei um disco do Wando de músicas bregas, que falava de amores impossíveis, de chifre explícito na testa. Ouvia o dia todo e as lembranças só aumentavam. Certo fim de semana, ouvi o disco o dia inteiro, e bebendo, no fim, já noitinha quebrei o LP de raiva.
- Fiquei internado quase um ano no hospital de alcoólatras e quando saí, isso pela primeira vez, tinha a convicção de que a esquecera.
- Estava me acostumando com essa possibilidade de nunca mais vê-la, tê-la, quando ela reapareceu e me deu mil explicações. Ficamos três dias conversando e nos amando num motel a beira da estrada. Acredite doutora, acabei entendendo os motivos que ela me deu para me largar e voltar naquele momento. Jurei pra mim mesmo que nunca mais nos separaríamos.
- Vivemos em lua de mel durante três meses, dez horas e três minutos, até que num fim de semana, quando estávamos no litoral, me preparava para ir à praia, já tinha preparado o café como ela gosta, bem forte, com pouco açúcar, queijo branco e pão amanhecido, que ela sorveu lentamente; de repente ela parou e me disse:
- O que eu estou fazendo com você não é honesto, estou grávida de outro, com quem ia me casar, e minha barriga começa a crescer, logo não terei como te enganar...
- Fiquei ali parado, estático, olhando o infinito, sem ver ela pegar seus pertences, me dar um beijo no rosto e sair dizendo adeus, em direção ao táxi.
- Pensei que ia morrer. Voltei pra bebida durante longo tempo, mais intensamente, querendo me destruir.
- Certo dia parei, achei que não valia a pena me destruir por ela, firmei um auto compromisso: nunca mais beberia!
- Passado algum tempo, pensando nela novamente, conclui que, se ela me procurasse, a perdoaria, e a aceitaria de volta com o filho. Passei a procurá-la, durante mais de ano, sem sucesso. Fiquei sabendo que ela se mudara com a família para o sul do país.
- Concluí que, se ela estivesse longe o problema estaria resolvido.
- Algum tempo depois ela retornou, e embora casada, passamos a nos encontrar secretamente. Ela não vivia bem com o marido. Nos encontramos durante algum tempo, até que resolvi dar um ultimato: Ou eu ou o marido! Na verdade blefava, - não queria mais dividi-la com ninguém.
- Ela novamente se afastou e não a vi mais até o dia em que voltei a beber. Acreditei, que ela havia optado em ficar definitivamente com o marido e procurei respeitar sua decisão.
- Certa tarde, estava eu em meu serviço, quando ela entrou pela porta, andando devagar, com aquele barrigão enorme; estava mais linda do que nunca, havia uma luz intensa iluminando-a. A minha intenção era correr abraçá-la e nunca mais deixá-la ir embora. Antes que ela falasse qualquer coisa, passei a ofendê-la e a expulsei da minha vida.
- Algum tempo depois “Mami” me contou que ela esteve em casa visitando-a; havia dado à luz um menino, o qual batizou com o meu nome e garantiu pra “Mami”, que o menino era meu filho.
- Discuti com “Mami”. Como ela poderia garantir que a criança era minha? Me exaltei, xinguei, falei alto, saí de casa batendo o portão, quase chutei o “Politiquinho”, meu vira-latas de estimação; tomei um porre, e quando retornei de madrugada “Mami” me esperava e foi logo falando:
- A criança nasceu com a mesma marca na perna que você possui, ele é seu!
- Fiquei mais algum tempo só bebendo, até que “Mami” me internou. Essa é minha história doutora, o que a senhora me diz?
- Alfredinho, depois dessa turbulenta história de amor, é minha vez de encher a cara!
(Loucuras de Amor foi o tema da Redação do Vestibular PUC – Campinas – 1998).
José Wagner Sampaio é Advogado
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