Certa feita conversando com Margot na portaria, esta abordava a crise no país.
Miroldo começou a fazer uma conferência sobre o mercado da sacanagem: - “Antigamente, o cara que nascia pobre estava, inexoravelmente, fudido. Era como se a criança, ao nascer fosse carimbada “POBRE”. E daí mermão, não adiantava ciscar, gritar, armar. Pobreza era coisa de nascença. Era como se pobre fosse classe social. Fosse raça.
Daí as dificuldades que o pobre sempre enfrentou para reagir e sair daquela merda renitente e perniciosa. É o que chamamos de “merda genealógica”.
Mas hoje os tempos mudaram. Essa onda de neo-liberalismo que assolou o mundo, trouxe como consequência imediata a liberação sexual. A mulher começou a dar mais, o enrustido soltou a franga, como passou a ter status de nobreza, o político sente orgulho de estar envolvido em alguma transação ilegal, desde que seja muito valiosa e até o broxa e o corno começaram a ter orgulho da própria situação. E, com isso, sacanagem virou mercado. Hoje, qualquer um que esteja inserido neste contexto sacanológico, tem chances de se dar bem. Basta estar a fim de sacanagem, que pinta logo uns trocos nas paradas. Aí é só uma questão de administração.”
Margot ficava babando com a sabedoria do Miroldo.
Conversa vai, conversa vem, Miroldo acabou terminando aquela viagem de trem, que havia começado no capítulo anterior, junto com Margot. Esta ficou tão feliz com a viagem que quis bisar no dia seguinte. Por outro lado Miroldo sentiu que um vulcão estava nascendo no meio das suas pernas. A partir daquele dia não perdoava mais ninguém; vestiu saia ele “Butchaca ” , como costumava dizer, e passou a ser conhecido por essa expressão.
O tempo foi passando e o Boa Viagem patrão do Butchaca faleceu. Consta que estava arrumando uma pilha de garrafas de wisky JB, empilhadas no seu sítio e as mesmas caíram-lhe em cima, matando - o.
O paradoxo do acontecido, parecido com vingança, foi o fato de ter sido morto pelos wiskys, que no passado transportou em carro de cadáver.
A morte de Boa Viagem, fez surgir em cena o seu genro Argemiro, casado com a deliciosa Xaninha, sua filha única. Tão logo assumiu a gerência do motel, Argemiro deu um toque pessoal ao mesmo. Foi implantado o almoço executivo gratuito aos usuários de segunda a quinta; às sextas feiras havia uma promoção especial denominada, Dia da caça e da cassada, que alguns insistiam em promover como Dia da caça e da casada. A promoção se repetia nas domingueiras.
Butchaca passou a almoçar diariamente no motel. Comia muito, e tinha o hábito de comer doces, Maria-Mole, Quebra-Queixo, Paçoquinha, hábito que mantinha desde a época em que transportava defunto. Esses hábitos alimentares deixaram-no doente: diabético.
Era comum Butchaca, em conversa com Margot, argumentar que a maior descoberta desse século ainda não ocorreu, mas ocorreria em breve. e o autor ou autora seria uma nutricionista, que inventaria a feijoada, a rabada, o chopp e o torresminho “ Zero-Cal”.
Adamastor e Lenésia apareceram certa tarde no motel. Ambos não tinham noção do que era a casa, achavam que era uma praia de nudista, visto que em certo momento Adamastor saiu do quarto nu, com o bicho solto, e foi até a portaria pedir um refrigerante. Deu um corre-corre nos presentes. E um vizinho chamou a Polícia, alegando falta de pudor.
O policial Cinquentinha esteve no motel e contornou o caso argumentando que, “não pode existir pudor nesse local despudorado.”
A história de Adamastor não pára por aí. Lenésia era perversa, gostava de apanhar, gritava, chorava e mandava bater. Adamastor começou dando tapinhas, e ela pedia mais, até que recebeu umas bordoadas. Lenésia chegou aos finalmente, mas foi parar no Pronto Socorro, onde novamente chamaram Cinquentinha para resolver o caso.
Defronte ao motel existia um ambulante que vendia caldo de cana e fritava pastéis. Era a perdição do Butchaca.
Certo dia, apareceu na portaria do Motel, um senhor com cara de quem havia tomado todas, perguntando quem era o tal que de estava “saindo sua mulher, a Margot ?”
Butchaca quase teve um troço de medo. O cara estava armado e queria uma explicação. O corno que se chamava Osvaldão, sabia que sua esposa e uma amiga, na segunda feira passada, voltaram para casa de carona num carro com propaganda do motel.
Butchaca continuava nos afazeres sem dar atenção àquela pessoa, até que tocou o telefone. Era Margot perguntando se o marido estava ali. Ante a resposta afirmativa, ela informou ao Butchaca que ele costumava fazer assim mesmo, e em algumas ocasiões exibia o revolver. Mas a arma não estava municiada. Era só espantá-lo dali. E arrematou, se ele demorar aí, dá alguma coisa doce para ele beber; ele é diabético e tem um derrame; socorre rápido senão ele morre.
Butchaca, que também era diabético foi buscar na lanchnete defronte ao motel, um jarro com 2 litros de caldo de cana, geladíssimo. Colocou-o próximo do inconformado e mandou que ele se servisse a vontade. Saiu de perto e ficou à espreita.
Osvaldão tomou toda a jarra de garapa e foi buscar outra cheia; passou a beber da segunda jarra; alguns minutos depois tinha bebido-a totalmente. Foi buscar a terceira jarra. Butchaca só observava. De repente Osvaldão caiu.
Butchaca correu e socorreu o mesmo. Este foi transportado ao PS, próximo, onde foi atendido e ficou internado.
Logo após, Margot ligou novamente, já sabendo da internação do marido, avisava que Osvaldão ia ficar internado, e ela viria passar a noite no motel com ele.
Butchaca pensava: Corno burro - é aquele que segue a mulher o tempo todo e quando flagra a mulher com outro, exclama: “Eu não entendo ! ! !”
Certo dia, apareceu no Motel um homem acompanhado de duas mulheres e ocuparam a melhor suíte da casa. O rosto desse homem era familiar ao Butchaca, e também essa pessoa parecia reconhecê-lo, visto que o tempo todo foi cordial, educado e o chamou como era conhecido intimamente: “But “. Isso o intrigava. Quem era aquela pessoa. Butchaca não se lembrava.
Começou a investigar pelo veículo que ocupavam e não chegou a conclusão nenhuma. Na saída, essa pessoa veio pagar a conta e passou a conversar com o But; este em determinado momento não se aguentando perguntou: afinal de contas de onde nos conhecemos ?
A pessoa ficou corada, pôs a mão em concha sobre a boca, falando baixinho, “eu sou o vigário ...”.
Butchaca arrematou: - O senhor veio trazer o rebanho pra pastar ?
Depois de algum tempo não havia mais novidade para Butchaca, até que certo dia, apareceu no motel o político, Dr. Trolha, com uma mulher, numa perua Kombi.
Butchaca conhecia-o bem e sabia que aquela Kombi não era dele. Sem querer, percebeu que dentro do veículo havia algo coberto com uma lona.
Depois de algum tempo, Dr. Trolba foi embora. Butchaca em conversa com uma faxineira da casa, expôs suas desconfianças, ao que a mulher respondeu de pronto:
- É um pervertido, gosta de filmar a secretária com outro homem. Ele fica assistindo, filmando e bebendo cerveja.
Secretária ? Caiu o queixo de Butchaca.
>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>> na próxima o último capitulo de Memórias de um porteiro de Motel.
As
opiniões expressas nos artigos são de responsabilidade
pessoal do autor e não representam necessariamente a posição
do NJNews ou de seus colaboradores diretos.
Veja Mais noticias sobre SAMPASpress