Uma nova pesquisa do genoma humano mostra que doenças comuns tendem a ter diferentes configurações de raízes genéticas em africanos, asiáticos do leste e europeus
A descoberta pode ainda representar sérias complicações na busca pós-genoma pelas raízes das doenças comuns, pois sugere que cada doença tenha de ser investigada separadamente em populações diferentes.
Após o genoma humano ser codificado em 2003, biólogos completaram um projeto de acompanhamento chamado de HapMap, o qual catalogou as variantes comuns do genoma, ou seja, os pontos no DNA onde uma unidade frequentemente difere da sequência padrão. Eles então escanearam os genomas de pacientes com doenças comuns para procurar conexões estatísticas entre ter uma doença e ter uma variação particular.
Esses caros mapeamentos, chamados estudos de associação ampla de genoma, demandaram o recrutamento de centenas de pacientes. Muitos desses mapeamentos foram feitos agora para a maioria das doenças comuns, porém os resultados foram decepcionantes. Com poucas exceções, variações comuns contribuem pouco para o risco genético de uma doença comum. A premissa básica do HapMap – que doenças comuns eram causadas por variações comuns – acabou sendo amplamente errônea.
De volta aos estudos, biólogos definiram que se as raízes genéticas de doenças comuns não se encontrassem em variantes comuns, deveriam estar em variantes mais raras. Com parceiros na Inglaterra e na China, o Instituto Nacional da Saúde guiou em 2008 um acompanhamento no HapMap, o Projeto de Mil Genomas, para catalogar variantes raras na população humana.
O projeto ainda não está concluído, porém a equipe liderada por Simon Garvel e Carlos D. Bustamante da Universidade de Stanford analisou os dados já disponíveis e prevê que se descobrirá que variantes raras serão completamente diferentes em populações chinesas, europeias e africanas. Isto significa que quase todas as variantes raras desenvolvidas a partir das três populações se separaram.
“Estudos sobre a associação ampla do genoma que buscam correlacionar a suscetibilidade de doenças comuns com variantes raras podem demandar amostras extraordinariamente maiores”, concluíram os cientistas no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences.
David B. Goldstein, geneticista da Universidade Duke, disse que há muito tempo sabe-se que variantes raras tendem a ser específicas para populações em particular, mas que ainda era muito cedo para falar qual será o grau de dificuldade para encontrar aquelas que causam doenças. Algumas variantes raras podem aumentar drasticamente o risco de doença e deveriam ser mais fáceis de serem detectadas que outras.
Contudo, o júri ainda está trabalhando no catálogo de variantes mais raras que está sendo desenvolvido pelo Projeto de Mil Genomas e no quanto será útil, disse Goldstein. Pode ser mais eficaz decodificar genomas inteiros em pacientes com uma doença em particular.
“Estamos mais interessados nas variantes que vemos em pacientes do que em um catálogo genérico”, disse ele.
Essas variantes são tão raras que mesmo os Mil Genomas não devem identificar muitas delas, disse ele.
O estudo de Stanford também verte claridade em aspectos relevantes da história da população humana, como a época em que os primeiros humanos modernos emigraram da África. Arqueólogos acreditam que foi cerca de 50 mil anos atrás, pois nenhum resto mortal de humano moderno datado antes disso foi encontrado fora da África, mas geneticistas há muito tempo defendem épocas mais antigas. Ravel e Bustamante calculam agora que 51 mil anos atrás, somando ou subtraindo muitos milhares de anos, é a data mais apoiada por dados genéticos, alinhando as datas defendidas por geneticistas e arqueólogos para a saída da África.
As variantes comuns do genoma humano estavam presentes majoritariamente em populações humanas ancestrais na África e foram herdadas por todas as populações descendentes. As variantes raras ocorreram mais recentemente.
“A maioria das variantes comuns refere-se a épocas antes da saída da África”, disse Bustamante. “A maior parte das variantes raras vêm depois da revolução neolítica”.
Esse foi um evento que marcou o começo da agricultura há cerca de 10 mil anos e levou a crescimentos significativos no tamanho das populações humanas. (Fonte: Portal iG)
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