Já havia adquirido de camelôs, alguns comprimidos de Viagra e algumas camisinhas. Esperava que a patroa, eternamente com dor de cabeça, fosse dormir cedo; era a oportunidade para dar uma fugidinha e ir brincar o carnaval na avenida.
A esposa percebendo que o marido estava pilhado, também ficou esperta e bem acordada.
Rolo, percebendo o renascimento da esposa que não se queixou de dor de cabeça e de nada, sentou-se para ver a Tv, pois, quando isso acontecia a rainha do lar dormia.
Era sua esperança para se mandar pra farra.
Mas naquela dia nada dava certo.
Nos intervalos das apresentações das escolas de samba na Tv, aparecia a globelesa, e Rolo olhava para sua cara metade, esperando que ela tivesse adormecido e nada.
Começava a lhe preocupar aquela situação, pois havia combinado com os amigos e amigas para lhe telefonar quando estivessem reunidos.
De repente sente uma tremenda dor de barriga.
Foi só sentar-se no trono e o celular tocou.
Ocorre, que o telefone encontrava-se do outro lado da casa. Precisava atendê-lo antes da esposa. Porém encontrava-se naquele momento mágico de criação, no meio do ato, sem poder levantar-se, nem dar aquela cortada clássica e sair dali correndo.
Ouviu a voz da esposa atendendo o telefone.
Não teve jeito; ela descobriria tudo pois já estava desconfiada.
Não deu outra!
- Bhemmmmmmmm, quem é Luana da Ponte Nova?
- Não sei querida, deve ser engano.
- Como engano, ela perguntou se o Rolinho estava pronto?
- Que Rolinho?
- Você, seu fdp!
- Não, não, você está enganada.
- Ahhh lembrei-me, é uma sem importância lá da repartição que organizou um bloco para sair na avenida.
- Não acredito, você não vai. Vai?
- Vou !
- Eu também vou.
- Então vamos todos.
Algum tempo depois Rolo e a esposa esperavam os demais componentes do bloco defronte a casa.
Feitas as apresentações dos componentes, a Rainha do Lar ficou indignada com a beleza de Luana da Ponte Nova.
Tratava-se de uma morenaça, pernas roliças, cinturinha de pilão, uma enorme e linda bunda, alem do que, o rosto perfeito e os dentes parecendo cristais transparentes, um sorriso maroto e uma enorme frescura com seu marido, a quem chamava de Rolinho. . .
-Aí tem! Como o marido se referira a ela como sem importância?
- Era um mulheraço, Um banquete para 500 talheres! E o pior, ela estava a fim do Rolo, ou melhor do Rolinho.
Globiraca decidiu que deveria ficar esperta, abrir bem os olhos, porque ali tinha coisa.
O marido não parava de beber, estava mamado e quando isso acontecia, ele se lembrava que era advogado de juri e fazia discursos imensos, inacabados, chatos.
No camarote onde ficaram, a animação era geral, havia liberdade total, todo mundo brincava com todo mundo, fazia jus ao nome do bloco “Infidelidade- Flex”.
Globiraca já de pilequinho, procurava sempre manter os olhos no maridão, e percebeu quando ele brincava com a Fernanda e passou a brincar com a Luana.
Dançavam, rodopiavam, trocavam de lado, e de repente o inevitável, uma das mãos do marido sumiu, exatamente quando ele estava de costas para a esposa.
Globiraca não teve dúvidas, pois ela sabia das preferências do maridão, e sabia bem aonde aquele mão havia sumido do radar.
Resolveu agir rapidamente.
Foi até o marido, puxou-o e deu-lhe uma descompostura na frente de todos, aos berros.
- Velho tarado, babão, sem vergonha, careca, veado, fdp e por aí foi.
Nesse momento a música parou e o som de sua voz ecoou pela avenida.
Rolo, sem perceber que a mulher estava blefando, pensou rapidamente em assumir a culpa e enrolar a situação, fazendo um daqueles discursos imensos, mesmo porque não queria negar o fato, fazia-lhe bem que todos os presentes soubessem que aquela mulheraça, a Luana estava na sua.
- Sabe querida, homens de uma conduta perfeitamente adaptada à vida de casado, como é o nosso caso, senhores sempre de suas ações, podem cometer um ato delituoso, um impulso imprevisto e inevitável para o macho.
- Macho? Machucado!!!
- Como estava dizendo, macho, todos com raras exceções, podem envolver-se em caso idêntico.
- Sem vergonha, você estava preparando desde cedo; tomou viagra e comprou camisinha.
- Como estava dizendo, todos podem errar. Quem não errou que atire a primeira pedra. A Justiça tem julgado benignamente estes atos, criando esse proceder de atos primários, sem importância. . .
-Sem importância? Chifre agora não tem importância para o casal?
- Como estava dizendo, sem importância. Certos sentimentos, paixões, fundamentalmente arraigados por determinadas paixões de nossa personalidade são incontroláveis.
- Incontrolável? Incontrolável porque você tomou viagra, seu brocha!
- São incontroláveis diante de determinadas percepções e provocam reações imediatas, que fogem ao nosso domínio.
- Sem vergonha, aquela mulher pelada se enroscando em você e o viagra, é isso que te descontrolou, aliás você está preparando esse descontrole desde ontem.
- O ato delituoso é tão imediato como a investida do touro excitado pela visão do pano vermelho.
- Você está excitado porque essa sirigaita está pelada.
- Essa investida do touro fere e mata porque é da sua natureza violenta, o impulso da natureza.
- Sem vergonha, e o viagra? Você é brocha onze meses por ano. Com essa putana, você até pula carnaval. Pra mim chega, vou me embora. .
Diante da retirada da esposa, Rolo se aproxima de Luana.
- Perdão querida, vamos brincar.
- E ela?
- Vai engrossar o bloco dos ex.
- E nós?
- Vamos cantar:
- Ô coisinha lindinha do pai ...
Wagner Sampaio é Advogado
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