Tenho pensado sobre a velocidade em que o mundo está andando. Não é, evidentemente, o planeta, mas os acontecimentos que nele vêm se desenvolvendo. Acontecimentos de forma geral e de forma individual.
Sim, de forma geral, as grandes mudanças sociais e políticas (também alguns retrocessos) e de forma mais individual, o nosso dia a dia, nossos compromissos, nossa agenda, nossa família e cada um de nós em sua individualidade.
Outro dia assisti a um filme onde o personagem de George Clooney usa uma mochila para exemplificar nossa caminhada. Achei interessante! Quando temos uma caminhada mais longa um pouco é sempre viável levarmos uma mochila. E a pergunta é: o que temos trazido em nossas mochilas? E eu incluo uma segunda parte: e com que velocidade temos descartado e reposto apetrechos em nossa mochila?
Ora, usamos a mochila como símbolo de nossa própria vida. E a que velocidade realizamos isto? Tenho um vizinho – meu vizinho mais próximo está a trezentos metros de casa – que me é muito querido. Nos falamos pouco, antes por emails e agora, claro, pelo ‘facebook’, mas tenho imenso prazer em conversar com ele e vê-lo pessoalmente, o que ocorre mais ou menos uma vez por mês. Pessoa atenciosa, desinteressado da fofoca e interessado em saber se estou bem, como vai minha família, etc e tal. No final do ano passado, eu saía para um compromisso quando o vi junto a seu jardineiro podando as primaveras que embelezam o limite de sua propriedade. Parei, desci do carro e conversei com ele por cinco ou dez minutos. É certo que chegaria cinco ou dez minutos atrasado em uma reunião periódica da qual participo, mas que invariavelmente se inicia com quinze ou vinte minutos de atraso. Ganhei um tempo!
Nas várias atividades que exerço tenho percebido as pessoas com uma agenda cheia e rápida. Quando chegam a um compromisso, já estão pensando no próximo horário e, antes do fim do dia, já pensam no dia seguinte.
Devemos nos preocupar com cada dia, pois cada um deles é e sempre será único em nossas vidas. E, com isso, nos ater a detalhes, como uma nova pintura, um novo jardim, uma bela árvore, um café recheado de boa conversa... coisas assim! O que observo é que quanto maior a velocidade, maior a superficialidade.
Então, como temos que ser rápidos, somos obrigados a ser superficiais.
Sim, porque para poder nos aprofundar num assunto, numa discussão ou num texto, não podemos exercer a superficialidade. Domenico di Masi em seu ‘Ócio Criativo’ nos alerta de alguma forma sobre a necessidade de realizarmos algumas tarefas em tempo certo, determinado, não contínuo, mas com eficácia. Diz que desta forma nosso tempo jamais será superficial. Eu creio que o entendimento de qual é o tempo de que dispomos para realizar nossas tarefas cabe a nós. Quero dizer que depende das escolhas que fazemos em nossas vidas, principalmente, a profissional.
Durante quase vinte anos exerci funções incompatíveis com a convivência familiar e, hoje, quando ainda poderia exercê-las, não abro mão da opção por uma vida mais dentro de casa ou, se preferir, mais junto a minha família, embora isso não impeça de realizar viagens para os mais variados lugares. E quando viajo, não faço as coisas rapidamente, me detenho nos detalhes, nas pessoas, na visão de outros que não enxergam o mundo da minha forma. Você pode viajar para cumprir compromissos ou para conhecer lugares e pessoas. Como é bom realizar o primeiro como conseqüência do segundo. É uma opção!
A verdade é que nossa mochila fica mais leve de carregar! Mas não devemos nunca nos esquecer daquilo que retiramos dela, que já nos foi útil um dia, pois assim não esquecemos das histórias e da História.
Digo isso porque vejo os últimos acontecimentos econômicos, políticos e sociais do planeta não como algo frugal e passageiro, mas profundamente marcado por desdobramentos de história recente e já esquecida pela maioria de hoje.
As profundas transformações econômicas que vem ocorrendo na parte ocidental, entenda-se EUA e Europa, e o crescimento vertiginoso da China tem suas origens nas décadas de 70/80. As mais recentes ebulições no Oriente Médio colocam em xeque as ditaduras nascidas durante a Guerra Fria, como acomodações da necessidade americana de petróleo e russa de poder. E a contribuição religiosa/geográfica é resultado da surpreendente Guerra dos Seis Dias, no fim da década de 60. E estes acontecimentos da segunda metade do século XX foram desdobramentos da Segunda Guerra Mundial. Ou seja, a história vem se desenvolvendo como um rio caudaloso, com suas curvas e suas corredeiras, às vezes mais calmo e às vezes mais ligeiro, mas sempre com densidade. Assim sendo, vemos que usar o tempo superficialmente não ajuda a contar histórias, nem ajuda a fazer História.
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