- O senhor fará os exames e quando retornar, acredito que já esteja bem melhor.
Gedeone saiu do consultório com as mesmas dúvidas anteriores: o médico não lhe explicou o porquê de sua impotência repentina
Muitos fatos se passaram, é verdade, e como o Doutor lhe falou, poderia ser estresse provocado pelos acontecimentos vividos.
Inicialmente sua mãe, com quem vivia, adoeceu até falecer consumida pela doença, sofrendo 2 anos e 6 meses; também conta a implicância que a falecida tinha com sua namorada, ou companheira, Ana Emilia; ela fez de tudo para separá-los, e prestes a falecer, segredou ao filho que sua companheira o traía com o guarda noturno. Tudo isso aconteceu simultaneamente, e agora pra fechar esse inferno astral, essa impotência ...
Gedeone estava meio perdido, e também não entendeu quando o médico deu destaque ao último exame que havia solicitado, - queria um exame muito bem feito! O último exame daquela série era o de fezes!
E como caprichar nesse exame? Gedeone passou a pensar.
Fez todos os exames solicitados e aguardou três dias para fazer o tal exame de fezes.
De súbito, um arrepio lhe subiu pela espinha ao pensar que teria que enfrentar a fila do laboratório com a “latinha” na mão. Morria de vergonha. Se não tivesse brigado com Ana Emília, ela por certo lhe faria este favor. Mas agora como proceder? Pensou em se disfarçar; ir de óculos escuros e paletó, ninguém o reconheceria.
Preparou-se para o exame que faria no dia seguinte. Foi até o restaurante “Leão do Norte” e comeu tutu de feijão mole, com arroz, carne seca desfiada com abóbora; antes tomou três pingas “Pitu” e duas cervas geladíssimas, e de sobremesa pediu abacate batido com sorvete de abacaxi. Acreditava que tinha um produto bom na barriga para o tal “exame”, que o Doutor queria; isso sem contar o pão com ovo mole que comeu no café da tarde.
À noite evitaria o banheiro para reforçar a conta do dia seguinte.
Chegando em casa, sentou-se no vaso e calculou uma linha imaginária, tipo prumo, onde deveria prender a latinha, para acertar o alvo com um unico tiro; encontrado esse ponto, prendeu-a no fundo do vaso sanitário com esparadrapo, próximo da água; ela ficou em declive.
Deitou-se e passou a lembrar-se de seu drama. O que estaria
acontecendo consigo. Lembrou-se da brincadeira do médico:
- Ele está cabisbaixo ? Possivelmente ele esteja desempregado, ou tenha perdido muito na Bovespa. Já cochilando, riu da própria desgraça. Acordou com o despertador. Era hora da operação.
Correu diretamente para o banheiro; sua barriga fazia barulho, como um vespeiro de marimbondos em manobras. Sentou-se no vaso, concentrou-se e disparou. O tiro foi tão forte e volumoso que borrou toda a latinha e afundou-a n` água.
Perdido o primeiro disparo, Gedeone novamente passou a ter calafrios. Pensou rapidamente noutra solução; correu para o armário da cozinha e pegou um vidro de Maioneggs vazio.
Voltou para a operação anterior e novamente disparou, enchendo o vidro: Sorriu de satisfação - quase 500 mg, excelente!
Agora viria a parte pior da coisa: enfrentar a fila no laboratório. Enquanto tomava banho, pensava:
- Será que existe o “Disk Latinha”, para virem buscar esse vidro ? Ligou perguntando e a moça do laboratório chamou- o de folgado e que a coleta ia até as 10 horas. Após esse horário, só no dia seguinte. Arrepiou-se novamente.
E embora estivesse um calor de 40 graus, colocou o paletó de lã, óculos escuros e se dirigiu para o sacrifício. Era como se sentia. Já na fila, tinha a impressão que todos olhavam por cima de seus ombros, aquele saquinho de pão com o vidro dentro.
Comprou um jornal, colocou o saquinho dentro do jornal dobrado e continuou na fila.
De repente a velha que estava à sua frente lhe perguntou:
- O meninão está com maleita?
- Não, porque? Respondeu.
- Porque está muito calor; olhe aqueles meninos ali na frente, de camiseta. A velha virou-se e resmungou algo:
- Deve ser goiaba, xarope!
Quando chegou sua vez de entregar o vidro, a recepcionista fez um escândalo: falou que o vidro não era apropriado, não estava esterilizado, e arrematou perguntando se era produto era de cavalo.
Gedeone queria morrer de vergonha; calou-se e sumiu dali rapidamente, sem olhar para traz. Chegando em casa, encontrou Ana Emília fazendo a trouxa do resto.
Discutiram muito, ofenderam-se, quase chegaram aos bofetões.
Depois por alguns minutos, se fez um silêncio interminável. Nenhum dos dois falava, até que Ana Emília, tomando a iniciativa, foi fazer um café e perguntou: - Faço forte como de costume? Gedeone sinalizou com a cabeça.
Ela o serviu na mesa com pão e manteiga que trouxera. O aroma do café forte tomou conta da cozinha.
Ana Emília sentou-se e passou a sorver o café lentamente, como costumava fazer. Gedone aproximou-se devagar, sentou-se, pensava, até que resolveu tomar o café. O silêncio gritante, perturbador, continuava.
Ana Emília ao lhe passar a faca, embora Gedeone não a tivesse pedido, resvalou em sua mão. E aquilo foi como uma explosão de nitro glicerina de tesão, em ambos. Logo em seguida, beijaram-se como nunca antes haviam feito. Fizeram amor selvagem durante horas e cochilaram. Ao acordar Gedeone ligara a tv, quando se lembrou de sua performance:
- Iiihhh ! Estou curado, me livrei da fila da latinha!
Ana Emília, ainda sonolenta, balbuciou:
- Pega uma latinha gelada pra mim também...(Fonte:Wagner Sampaio-Advogado)
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