Fonte: Divulgação [-] [+]
“Senhores, é com profunda decepção que escrevo este manifesto cultural, ciente de que devo escrevê-lo como uma resposta a uma realidade incontestável do descaso com a cultura em nossa cidade.
A prefeitura demonstra, principalmente através das suas festas, as falhas das políticas públicas de arte e cultura.
Fiquei indignado ao ver a programação e os gastos públicos excessivos destinados a Festa de São Pedro e dentre outras festas.
Penso que com todo esse dinheiro gasto em apenas 3 noites, seria capaz de suprir a longo prazo a escassez cultural de nossa cidade. Como por exemplo, a construção de um grande centro artístico-cultural, para a produção de arte e exposições em suas diversas modalidades, Artes Visuais, Dança, Música, Teatro, Cinema, Fotografia. Uma ação extremamente importante, para que Arte e Cultura se espalhem por todo o município, apoiando e incentivando novos artistas locais.
Em relação à qualidade musical da Festa de São Pedro, a resposta do nosso Secretario de Cultura em divulgação ao JI cita, “ quanto aos artistas, a programação foi eclética, justamente para poder atender vários segmentos da sociedade e, por certo, atingiu esse objetivo,… contamos com mais de 55 mil espectadores…’’. Em vista desta resposta, posso dizer que nossas festas já virou uma espécie de "reality show", onde o importante é sua “audiência”, independente do conteúdo e valor “cultural” dela, ou seja, a qualquer preço.
Senhores, cultura não é decoração ou ornamento, mas sim a produção de saber e de sentido, é formação da percepção e da sensibilidade, é a condição e o resultado da Educação.
O que vejo por aqui é uma “cultura’’ por meio de uma estratégia eleitoral, com base no assistencialismo.
Sei muito bem da importância destas festas em seu caráter assistencial e de entretenimento, mas e o cultural? Não vamos confundir CULTURA com ASSISTENCIALISMO e DIVERSÃO.
Outra questão é o uso do termo “doação’’, principalmente quando freqüentamos os eventos culturais da prefeitura, em especial nosso teatro, em que quase todas as atrações é cobrado 1kg de alimento pela troca do ingresso. O engraçado é que já fui impedido de retirar ingresso pela falta do alimento, e isto ocorreu com uma das atrações do Circuito Cultural Paulista, que é um evento gratuito em todas as cidades da região, pois se trata de um convênio entre Prefeitura e Secretaria do Estado de São Paulo que destina gratuitamente as atrações para o município. Acho que quando se cobra você perde esse valor de “doação”, e realmente não vejo solidariedade neste tipo de atitude, iludindo a todos com esse caráter que a prefeitura assume como sendo de ajuda.
O fato não é deixar de ajudar estas instituições, até porque eu realizo este ato de outra forma, o que não pode ser feito é misturar o ato solidário com trocas de serviços.
Sou a favor da cobrança, mesmo que seja um valor simbólico em dinheiro, mas que seja para ajudar algum fundo cultural, ou como forma de incentivo à cultura.
As escolas de música, dança, dentre outras de nossa cidade tem que pagar uma taxa para utilização do teatro na realização de seus espetáculos, até aí tudo bem, pois é uma forma de manutenção do mesmo, o problema é que, não sendo possível a cobrança de ingressos por conta da administração do teatro pertencer a uma instituição pública do poder legislativo, fica difícil ter o retorno financeiro destas escolas em relação aos gastos e trabalhos realizados.
Quem disse que o artista não tem que ganhar dinheiro? Fazemos faculdades, cursos, gastamos materiais para realização de nosso trabalho, e o retorno? Somente aplausos não irão colocar prato de comida em nossa mesa. Com tudo isso, deixa a desejar a valorização do profissional desta categoria para atuar em sua área. Sou formado em Artes, não encaro minha área como um hobby, mas sim como uma profissão.
Profissão assim como a dos senhores, prefeito, secretário e vereadores, que tem um salário.
Tenho um pouco de vivência dentro da prefeitura e nela adquiri uma certa experiência e ao mesmo tempo um sentimento de impotência e desesperança, sou apenas aquele que trabalhou nos bastidores, porém não senti mais vontade de continuar a me envolver em uma situação que o governo insiste em manter, divulgando uma imagem totalmente mentirosa da verdadeira realidade.
Foram 2 anos como estagiário na Diretoria de Cultura, mais 2 anos como professor de artes pela Secretaria da Educação e 3 anos pela Ação Social como Oficineiro de Artes no programa Pró-Jovem.
As irregularidades nos CRAS onde trabalhei foi a prova maior, de que não tenho vocação para herói, capaz de modificar problemas que nem de longe são conjunturais, mas sim estruturais e em colapso.
Tenho apenas 26 anos, morei minha vida toda nesta cidade, e, mesmo sendo só o começo da minha vida profissional, ainda quero passar um pouco do conhecimento sobre as artes que adiquiri durante todos esses anos que me dediquei a esse meio artístico. Mas não aqui, nesta cidade, pelo menos, por enquanto.
Estou cansado de ver amigos da profissão indo embora daqui por falta de valorização e espaço profissional na nossa cidade, e eu sinceramente não gostaria de tomar o mesmo rumo.
Para finalizar gostaria de compartilhar um pouco da Cultura que os senhores nos oferecem, principalmente aos meus alunos…:
Ta Chovendo Mulher
Djavú
A festa tá bombando, tá no clima, tá legal
Tem loira, tem morena e eu já tô passando mal
Aqui tem safadinha, tem santinha pra escolher
Mulher de todo jeito
Tem pra mim, tem pra você...
Wísk, Red-Bull, cerveja, todo mundo bêbo
As mina tão chapada e eu já tô falando grego
Nessa brincadeira falta homem pra tanta mulher...
Eu vou passar o rodo e hoje ninguém me segura
Já tá combinado no apê vai ser loucura
Vou botar meu carro na goteira e encher de mulher...”
Atenciosamente,
Denis Baptistella
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